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Vida Urbana: Capítulo 2


               Eles estavam em frente à casa do garoto. O coração de John tomou um ritmo acelerado e aos poucos ele foi sentindo que tudo aquilo que tentara afastar ao longo daqueles dois anos voltaram a sondá-lo e agora já não podia fugir, teria de enfrentar tudo  a qualquer custo. Os olhos do garoto menor ficaram meio ofuscados e o mesmo se pôs a caminhar para a porta da casa. Aos poucos via que Lucas estava ali, atrás dele mais ele teria de tomar as rédeas. Ficou em pé de frente para porta bateu as mãos uma contra a outra e gritou:
                – Pedro! – repetiu a mesma fala, várias e várias vezes até a porta se abrir.
                E lá estava Pedro, robusto de cabeça erguida e sorrindo, não um sorriso qualquer mais sim um sorriso irônico que dava entender já estar esperando aquelas duas vitimas a muito tempo.  Os dois garotos que estavam fora da casa  o cumprimentaram e o anfitrião simplesmente deu espaço para que eles entrassem na casa. Foram caminhando  para a sala, era nostálgico estar ali outra vez para John, isto significava que todos aqueles sentimentos e aquelas noites sem dormir eram um pressentimento do que estava por vir.
                – Bem vindos a minha casa, er... estamos sozinhos, a  Clarice teve de ir ao mercado e às compras, vocês sabem muito bem como ela é, minha irmã não cresce em certos detalhes.
                – Então vocês estão de volta, que agradável. Pedro, sinto que teremos uma conversa bem longa – em seguida Lucas pigarreou a garganta e logo seguiu com o discurso – por acaso não tem um Whisky para nos ajudar a amolecer a garganta?
                – Nossa que falta de educação a minha não oferecer nada aos meus convidados. – ele caminhou em direção a uma sala que parecia um verdadeiro escritório e voltou de lá com uma garrafa e três copos.
                – Mais então me diga Pedro, por que vocês sumiram esse tempo todo e não deram noticias até agora? – John indagou sabendo que a partir daí nasceria uma pequena confusão.
                – Não seja idiota John, você sabe muito bem o que aconteceu comigo e Clarice, afinal de contas vocês e mais alguns nos colocaram em maus lençóis. – em seguida ele caminhou para perto da janela que ficava ao lado direito de John e  tirou a camisa.
                – Bom quanto a isso acho que devo saber qual sua intenção real aqui, até porque não precisamos de mais confusões e – John foi violentamente calado pela voz  de Pedro.
                – Sejamos honestos, vocês vieram aqui fazer algum tipo de intervenção se bem sei. Não se esqueçam, eu já fui um de vocês. – ele caminhou despreocupadamente para um dos sofás e se sentou.
                – Qual então seria o objetivo da sua vinda à cidade? Vingança?
                – Não, tenho bastante tempo para contar e a história é bem longa então sentem-se neste sofá – indicou  mostrando o sofá  a frente que era de um couro carmesim.
                – Tudo bem, mais então nos diga o que aconteceu? Qual o motivo da sua volta? Vocês sabem muito bem que não  deveriam estar aqui, nós concordamos que depois da morte de Adam vocês nunca voltariam. Fizemos nossa parte, demonstramos muita fé em vocês os encobrindo nos depoimentos.
                – Cale a boca Lucas, gostava de você quando era apenas um capacho do nosso morto Adam. – deu um sorriso quando viu a face de Lucas se enrijecer.
                – Não quero levantar minha mão contra você então se comporte.
                ­­– Uau, você não só mudou como está se sentindo o macho alfa, mais voltemos ao assunto principal, o motivo da volta pelo menos o principal é que... A partir de agora eu tomarei as empresas do meu falecido pai ao final do ano então tive de voltar para me reestabelecer, e sabemos que a sede da empresa é aqui e a faculdade, bom esta é na cidade vizinha, então não tive outra saída à  não ser voltar pra esse lixo.
                – Como assim, seu pai faleceu quando? Como?
                – John você sempre foi tão esperto, sabe que não vou dizer tudo mais vejamos ele estava bêbado e há três meses e bateu o carro.
                – Então vocês são órfãos agora? – John deu uma longa risada e continuou a indagar – E a Clarice, ela vai ficar na cidade também?
                – Sim ela vai ficar. Agora parem de me perguntar todas essas coisas e tomem a porcaria do Whisky, temos de conversar sobre a volta minha e de minha irmã ao colégio, já que nosso primeiro dia de volta as aulas será na segunda–feira.
                – Bom nós não temos nada haver com isso, se vocês vão ou não retomar a vida, isso é apenas problema seu e de Clarice.
                – John realmente você é um saco – Pedro obrigou-se a rir de si mesmo, pois por incrível que parecesse ele não havia apanhado ou algo do tipo – Nós voltamos, você não entende? Participaremos de tudo e voltaremos a fazer parte do grupo, você querendo ou não. Tenha o bom senso de entender que apenas eu, você e mais alguns sabem da história, vocês não podem simplesmente fingir que não nos conhecem, até porque isso soaria muito estranho para as autoridades e o próprio colégio. – Lucas já abrir a boca para dizer algo quando Pedro continuou a dizer – Mais tenham calma, já arrumei tudo, Jéssica vai dar a festa neste final de semana e sei que vocês vão estar lá.
                – Você parece muito empolgado com tudo isso não é? Sempre fez o seu estilo, conseguir tudo aquilo que quer não é? Bom, tenha cuidado pois nós dois sabemos que eu também sou perigoso, não foram apenas vocês a crescerem durante esse tempo e saiba que o boboca aqui vai fazer de tudo para te manter nos eixos. – John ficou de pé e continuou a dizer num tom ameaçador – Não vou medir esforços, dessa vez. Cause algum dano e você verá o quanto eu te desprezo  - O corpo do menor foi aos poucos se dirigindo ao sofá que Pedro estava sentado.
                – Vai me matar John? – Pedro se pôs de pé e enfatizou sua fala – Eu achava que os únicos assassinos da cidade eram: eu e a Clarice. Mas se já está tão disposto a entrar para o grupo dos marginais eu não tenho nada a dizer senão lhe dar um abraço e desejar-lhe um  seja bem vindo caloroso.
                – Não me provoque Pedro, senão vou ser obrigado a lhe bater.
                – Você me bater John? Isso seria uma missão suicida veja! – Pedro pegou as mãos de John e fez com que o garoto menor sentisse  os músculos do braço dele. Rapidamente John tirou as mãos obtendo controle de si mesmo e em seguida retrucou:
                – Além de marginal, é gay? – John sabia que aquilo não era muito bom para se falar ainda mais com Lucas por perto mais John já havia perdido a paciência e nada tinha a perder agora, trazendo um pouco mais do passado a tona.
                – Haha... Você não diria isso há dois anos atrás. Não é?
                – Olha o que dizes Pedro, mentir não é uma de suas armas. ­– Lucas disse enquanto se punha de pé.
                – Chega! Acabamos o que viemos fazer aqui. Vamos Lucas – John disse num tom ríspido,  certamente não era algo que ele fazia sempre, ser autoritário.
                Lucas caminhou até ficar lado a lado dos outros dois garotos e por fim esperou o próximo ato de John. O garoto menor pôs-se a caminhar para o corredor da casa  e enfim notou que ele não tinha nem percebido como a casa havia mudado. Antes, há dois anos atrás, a casa era disposta num modelo meio antigo já agora, ela estava organizada de uma forma mais contemporânea o que fez John lembrar que agora Pedro e Clarice estavam sozinhos. Aos poucos ele já estava em frente à porta da casa outra vez e quando John abriu a porta ele ouviu um barulho estrondoso, John apenas virou-se e viu que Lucas havia desferido um soco no rosto de Pedro.
                – A propósito senhor Pedro. Seja Bem vindo de volta.  – Lucas disse enquanto abria um enorme sorriso.
                               O mais rápido possível John puxou Lucas pelo braço e o colocou para fora da casa de Pedro. Enfim o dono da casa viu uma cena nada convencional. John apenas ergueu um dos braços e movimentou a mão para lhe dizer adeus e a única coisa que Pedro fez foi dizer:
                               – Até amanha na festa.
                Os dois garotos se puseram a caminhar mais depressa e não se falaram, houve apenas um silêncio, algo que os fazia refletir sobre tudo que tinha acontecido. As coisas não seriam as mesmas, Pedro e Clarice realmente estavam de volta a cidade e  eles não poderiam fazer mais nada. A cabeça de Lucas estava presa em pensamentos que o levavam direto para época que Adam estava vivo. Já John  pensava loucamente no que teria de fazer a partir de agora, qual seria sua melhor jogada e quem ele traria finalmente para o lado dele.
                Com menos de uma hora John e o outro garoto já estavam na rua do colégio, mas por mais que o garoto menor quisesse ficar na escola e sorrir como se nada tivesse acontecido ele não conseguiria e o máximo que poderia fazer era se interessar sobre os assuntos da festa. Lucas não queria indagar nada,  não queria saber de nada, ele era mais uma das vitimas da trajetória violenta dos jogos psicológicos de Pedro e desta vez ele não queria se envolver de maneira profunda, não como da ultima vez.
                – E então gostou do pequeno soco que eu dei nas fuças daquele idiota? – Lucas abriu um sorriso interessante, bem alegre mais no fundo sabia que era um sorriso falso.
                – Haha... Foi interessante, se fosse outra pessoa eu até acharia que nós somos os vilões da história.  – John sorriu para retribuir da mesma forma como o outro garoto fizera.
                – Bom, e você vai na festa?
                – Bom eu tenho que ir, não vou poder desgrudar um segundo sequer desses dois. Não vou facilitar logo agora.
                – Aí está o garoto de duas semanas atrás.
                – Eu só estava calado e bom agora nós não estamos falando nada de tão sério, então eu não devo agir de forma séria não é?
                – Você é muito sem noção, é só o que eu acho – Lucas dissera isso para dar um fim naquela conversa, sequer ele entendia porque tinha puxado um assunto com John agora.
                – Nós vamos entrar atrasados na aula de Literatura? Marta nos mataria. – John agora estava sério, ele tinha voltado ao seu estado normal e aquela onda de compulsão já tinha passado.
                – Sim eu dou um jeito.
                Eles caminharam pela rua da escola e entraram na mesma com uma facilidade, viraram um, dois, três corredores até a monitora pará-los. Ela estava vestida com uma roupa meio social, cinza. Seus cabelos estavam meio desarrumados, e sua boca manchada de batom, os garotos não tinham reparado no modo como ela estava vestida ou coisa do tipo, eles apenas estavam de cabeça baixa esperando ouvir  um daqueles sermões nada convencionais. A Sra. Joana sempre divagava em seus discursos, ela começava dizendo sempre a mesma coisa, dizia que no Colégio São Claus não era permitido qualquer coisa semelhante a vagabundos, ela era meio direta nesses momentos e não controlava a língua mas, sempre acabava perguntando como a mãe de John estava.
                – Senhora Jo.. ­– Joana havia simplesmente erguido suas mãos e mandado os garotos passar.
                Correram, simplesmente correram até a sala sem dizer nada  e quando entraram deram uma desculpa banal para a professora. O tempo passou vagarosamente para Lucas, ele esperava que esta aula acabasse o mais rápido possível e John estava  se inteirando sobre todos os assuntos ocorridos desde mais cedo quando eles tinham saído da escola. Os garotos fizeram um pouco de alvoroço mais ainda sim ninguém  se preocupou em saber o por quê dos garotos terem sumido nas outras aulas.
                Já era  fim de tarde quando os outros garotos se encontram para conversar. Estavam na porta da escola John, Lucas, Alice, Jéssica e Thalles. Eles conversaram algumas coisas normais da escola até Alice dar o primeiro passo e perguntar sobre a festa. Jéssica empenhou-se ao máximo para contar que a na verdade haviam setenta convidados para festa, eram estes os alunos do segundo e terceiro ano, selecionados pelo que ela chamava de seleção natural das espécies colegiais.
                – Então será uma festa a fantasia? – Alice estava perplexa em saber só agora que ela não estava definitivamente preparada para esta festa.
                – Sim e eu garanto a vocês saiam correndo agora para começar a arrumar as coisas, e outra não é permitido levar namorados ou namoradas.  – Jéssica dirigiu seu olhar para Thalles, ela sabia que o garoto namorava uma menina suburbana e ela realmente queria algo mais controlado, misterioso.
                Os garotos não conversaram mais nada, Jéssica foi para uma direção e os demais seguiram seu caminho. Era o fim do dia e todos não se comunicariam até a festa, não porque quisessem mais sempre acontecia. As pessoas sempre sumiam antes das festas então não foi difícil saber o que aconteceria. John foi para casa e dormiu já Alice ao invés de ir para casa dirigiu-se ao café e foi ao encontro de Clarice.
                As ruas estavam escuras, o movimento era intenso, normal para inicio do final de semana. Alice havia prendido seus cabelos durante as ultimas aulas do dia devido ao calor mais agora parecia que estavam num rigoroso inverno. Os passos dela estavam firmes e o Café se aproximava a cada momento. Quando menos esperou ela já estava abrindo a porta do  estabelecimento e de longe avistou Clarice. Ela estava sentada no ultimo banco, em um dos lugares mais escuros do local.
                Alice caminhou devagar, tirou a mochila das costas e encostou num banco ao lado do de Clarice, era praticamente inerente o medo que Alice sentia da outra garota, mais também um sentimento de desejo palpitava no coração dela, ela sabia que queria participar dessa história e sabia que se algo de interessante fosse acontecer ira ser ao lado de Clarice que ficaria.
                Clarice estava num vestido preto, e um espartilho prendia seu corpo como era de costume. Suas origens francesas faziam-na sempre voltar nessas vestimentas um tanto sofisticadas. Seus cabelos estavam agora mais escuros do que antes e seus olhos brilhando numa cor de verde purpura. Alice inclinou o corpo, levantou a mão e conversou com a garçonete, pedindo-a um cappuccino em seguida olhou fixamente para os olhos de Clarice e disse:           
                – Então você voltou mesmo, não é? Digo vai ficar ou está apenas de passagem? – ela sabia que agora viria uma resposta inevitável.
                – Claro sua boba eu voltei – Clarice inclinou o rosto para o lado direito e disse docilmente – E então prima como andam todos?
                – Bom estão bem. As coisas apenas mudaram.
                – Relaxe, somos parentes e você sabe o que eu quero dizer quando pergunto como estão todos.
                – Olha eu não vou fazer nenhum mal a nenhum deles. Eles são meus amigos.
                – Eu sei! Bom e pelo que eu me lembre eles também são meus amigos, um tanto estranhos mais são. Mas ande, diga John está namorando alguém? Ou definitivamente se tornou isolado?
                – Não, ele está bem e ainda sim andou se popularizando muito nestes últimos tempos, saiu com a maioria das garotas do colégio mais ainda sim se sente meio solitário, dá pra ver nos olhos dele.
                – Viu, foi difícil prima? Eu só queria saber como anda meu ex-namorado, nada demais. A proposito você vai à festa de Jéssica amanha?
                – Claro, ela disse que você seria uma das convidadas principais da festa, mais só nós do antigo grupo sabemos disso, até porque somos os únicos que ficam sabendo do que acontece aqui não é? – Alice já estava pegando o ritmo da prima, ela sabia que agora não teria volta e realmente séria melhor tentar se dar bem do que ficar andando atrás de Jéssica e ainda mais agora que já estava se interessando em Lucas.
                – Que bom, olha eu vou ter que ir agora. Preciso ir para casa e levar estas sacolas para Pedro, vamos cozinhar e conversar.
                – Ok, vá eu vou tomar meu café e depois vou para casa. – só agora Alice tinha reparado nas sacolas de compra do mercado que  Clarice segurava e também já havia tirado sua primeira conclusão. Clarice estava de volta mais estava reprimindo alguma coisa.
                A garota levantou e disse adeus para Alice, em seguida caminhou com pisadas fortes ao chão e saiu do Café. Caminhou pelas ruas da cidade com facilidade, afinal de contas não era nada comparado há França, mais ela acostumava-se muito facilmente aos lugares, ainda mais um no qual ela já viveu.
                Assim que chegou em casa correu direto para a cozinha e viu seu irmão de costas. Depositou com bastante força as sacolas no balcão e aos poucos  foi tirando o conteúdo das mesmas e guardando-as, num movimento rápido e incansável. Por um momento ela lembrou da sua infância, lembrava de um momento parecido onde ela chegava com as compras e sua mãe guardava as compras.
                – E então como foi no mercado Cla? – ele ainda permanecia de costas olhando para janela.
                – Foi bom, vi Alice agora mesmo. – ela disse num ar pesado de quem havia realmente trabalhado durante todo o dia.
                – Que bom, mas me diga o que ela lhe contou – ele virou o corpo e foi a caminho de sua irmã.
                – Bom ela me falou sobre o John, parece que agora ele está tão popular quanto o Adam era. – ela olhou para o rosto de Pedro e reparou que ele tinha um pequeno corte na boca. – Ei, Pedro o que houve?
                – Não é nada, apenas um presentinho daquela bichinha incubada do Lucas.
                – Como assim você o procurou?
                – Claro que não o idiota veio com a bicha mor para cá . – ele olhou para o rosto de Clarice e continuou a dizer – Os dois vieram aqui crentes que iriam tirar algo da minha boca e bom tiraram apenas sangue.
                – Hahah... Eles não mudam não é?  E o que faremos com eles. Ai estou com tantas saudades de brincar com alguém.
                – Amanha minha irmã , amanha eu quero  que tu seduza o John, preciso que você o tenha em suas mãos, mais no fim quero que você fique com  o Lucas. Quero deixar todos eles com saudades do tempo em que nós não estávamos aqui.
                – Bom acho que isso vai ser interessante ainda mais que eu já tenho a palerma da nossa prima em minhas mãos, a próxima é a Jéssica que já está feliz com minha volta, disse que eu até seria a atração principal da festinha.
                – Pois bem – Pedro inclinou a cabeça e deu um beijo no queixo de sua irmã – Bom fique em casa enquanto isso. Amanha é a festa e você tem que estar bem bonita. Agora eu vou sair e não tenho hora para voltar.



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