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Sem rumo !


Nós dançávamos na beira da estrada, perdidos como se nunca tivéssemos algo a seguir, uma alma à responder.  De mãos dadas, aquele asfalto parecia sem cor, andávamos unidos. Ela com seu all star um pouco sujo e eu com aquele tênis de correr.
Sua face estava completamente pesada, os cabelos caiam do rosto ao peito e a boca um pouco avermelhada, aquele vermelho natural como se houvesse um parentesco com a pequena branca de neve.  Olhos pesados como se não houvesse dormido há um bom tempo.
A coca cola em nossas mãos e as músicas em nossas bocas:
– Eu canto a mim mesmo, eu canto ao corpo elétrico e canto por todas as coisas que me faz bem. – meus lábios tremiam enquanto olhava para o céu e recitava.
– Você é engraçado começa em um sentido, divaga ao extremo e depois some, se perde nos caminhos que você mesmo criou.
Ela rodopiava e eu observava em constante admiração, parecia um cisne planando no espelho do lago, uma bailarina dançando ” O Lago do Cisnes”. Meu corpo se movia conforme aqueles sorrisos, às feições de acanhamento, um tanto meiga e um tanto perversa.
– Vem vamos pedir a carona? A coca já ficou quente e nós estamos aqui, andando como duas crianças indefesas.
– Tudo bem, mas cuidado. Como minha mãe dizia aqueles antigos e medonhos homens do saco agora caminhavam e não caminhavam sozinhos e solitários com suas próprias pernas. Agora andam nos cavalos motorizados  colocando garotinhas na garupa e prometendo as mesmas meio mundo de felicidade.
– Deixe de ser bobo, sou uma princesa-demônio. Roubo os corações – enquanto dizia ela se movia me fazendo perder o folego e fazendo com que eu sentisse o medo em minhas próprias mãos.
– Tudo bem senhorita Perdição – sorri um tanto sem graça – Tomemos a coca e peçamos a linda carona –  meus olhos voltaram a encontrar com os dela e  simplesmente as palavras saíram  – Carpe Dien para nós e para os outros.
– Então vamos! – ela virou o corpo, beijou-me no rosto como se beija uma criança e roubou a coca de minhas mãos – Carpe Dien, pequena criança. Venha, vamos para  aquele trevo.
– Sim – meu pensamento agora se voltava para o oculto. De pegar carona com estranhos homens do saco à locais costumeiros a rituais místicos.
E ali o tempo passou. Por grande parte nós não dissemos nada, mantínhamos aquela constante brincadeira infantil de namoro com os cílios. Teu belo rosto agora estava colado ao meu, não estávamos pensando mais na carona e nossos corações se uniram. Selamos nossos lábios e por fim entendi este, era o nosso vídeo game.
O carro  passou, parou e lá estava o nosso singular homem do saco, vestido como um verdadeiro anjos dos veículos. Barbas longas e ruivas, compridas e grossas. Olhos negros e perdidos como a noite. Corpo branco, um doce de leite.
– Uma carona para jovens perdidos?
– Talvez sim, senhorita Dark.
– Interessante, mas essas roupas não dizem nada.
– Ok! – ele riu como se o que ela dissesse fosse uma piada única. – Entre e você garoto sem língua sente aqui.
– Sim, senhor. – as palavras soaram como se ele fosse um comandante.
– Vamos ligar a música barba vermelha.
– Sim, mas meu nome é Peter e não Barba Vermelha.
– Tudo bem – ela o imitou no jeito de falar e soltou pausadamente  – Peter o Barba Vermelha.
Os dois riram e não tive outra opção a não concordar.
– Qual o seu lema garota perversa?
– Carpe Dien.
– E você garoto, qual teu lema?
Meu corpo e alma se encheram de coragem e de um sentimento excitante, olhei para minha Branca e disse:
– Carpe Dien, Senhor.
– E você Barba Vermelha ?  – Pela primeira vez eu e ela dizíamos as palavras juntos, em forma única.
– Eu – uma gargalhada se fez em meio a pausa – Eu apenas dirijo.

1 comentários:

  1. IMPRESSIONA-ME A TUA FORMA DE ESCREVER,JÁ LHE DISSE,A CADA DIA VOCÊ ME SURPREENDE E COM SEU JEITO DE DEMONSTRAR SENTIMENTOS ATRAVÉS DA ARTE,A SUA ARTE! Continue sempre assim,vocÊ vai longe,vou poder ter o orgulho de dizer no futuro (não muito distante) que sou amiga de um grande escritor brasileiro!Hahaha
    e por último:Shake it Out,Shake it Out!!!

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