Era segunda-feira, a aula já tinha acabado. O inicio da tarde era marcado pela
incrível energia do sol e lá estava Clarice e John, sentados na grama do
colégio encostados naquela árvore. Certamente era um salgueiro ou algo do
tipo. Clarice parecia quieta, o que não era normal. Eles ainda não tinham
parado para conversar desde que ela voltara à cidade porque as coisas estavam
embaraçadas demais. John se sentia usado e ela simplesmente queria vingança.
Ele sabia o que estava por vir mais permaneceu imóvel, com os olhos meio
abertos. Por fim depois de um longo período de silencio Clarice se pôs a dizer.
– Bom, tenho que te contar uma coisa.
– Diz então. Você vem aqui e interrompe minha paz enquanto poderia estar por aí
me divertindo – John jamais esqueceria tudo que ela havia o feito de
mau.
– Ér ... Na festa de sábado, bom ... Eu fiquei com o Lucas.
A face de John continuou imóvel, isso não era nada perto do que ele estava
vivendo, mas ainda sim era uma traição e uma coisa assim não podia ser
simplesmente esquecida.
– Eu não tenho nada haver com isso. – seu tom de voz agora era um pouco mais
forte, ríspido – Só posso dizer que você realmente é um a vadia.
O corpo do garoto agora se movia. Ele estava se levantando e com pouco tempo
já se afastava de Clarice que apenas permaneceu sentada. John já tinha se
decidido, ia atrás de Lucas e realmente procuraria saber de tudo que havia
acontecido naquela festa. Seus passos se tornaram cada vez mais rápidos e com
pouco tempo já estava em frente à casa de Lucas. O garoto deu um pequeno
suspiro e seguiu seu caminho. Bateu vagarosamente na porta e quando a mesma se
abriu estava ele lá, o velho e grande amigo de John.
– Ual! O que você está fazendo aqui? – Lucas disse enquanto sorria.
– Temos que conversar. Posso entrar?
– Claro, só disfarce um pouco essa cara de merda. Hoje ainda é segunda.
– Ok.
Eles subiram as escadas viraram um pequeno corredor e já estavam no quarto de
Lucas. Era um quarto típico, cartazes de bandas e muita bagunça. John caminhou
até a cama e se sentou na beirada da mesma.
– O que aconteceu na festa? – John estava com o mesmo olhar de antes, o olhar
do qual só Clarice recebia, desprezo.
– Bom, nada demais eu apenas tive que sair cedo – Lucas deu uma pausa em meio
uma risada desconcertante e continuou a dizer – Meu pai me ligou e pediu
que eu viesse mais cedo para casa.
– Vai mentir pra mim Lucas? – Agora John estava com uma expressão de
incredulidade.
Lucas agora realmente sabia o que John fazia em seu quarto. Ele queria
saber o que havia acontecido, o que realmente Lucas havia feito com Clarice e
ainda por cima teria de dizer sobre a conversa de Pedro. Lucas estava irritado
com tudo aquilo, queria apenas que as férias chegassem o mais rápido possível.
Viajaria para França e talvez não voltasse nunca mais.
– Olha, eu não tenho nada haver com seus problemas e suas dúvidas. Estou farto
de ter que participar dessas coisas desse grupinho idiota que, por ironia do
destino, eu caí. Sou seu amigo realmente não posso negar isso, mas não lhe devo
nenhuma satisfação.
– Me diga. Por favor... – John estava enfim se entregando. Esperando que seu
amigo lhe dissesse a verdade mesmo que isto lhe causasse dor.
– Tudo bem. Essa é a ultima vez que me relato a você como uma criança faz aos
pais. – Lucas tentou se acalmar e começou a contar a história. Disse tudo que
havia acontecido e John não aguentou, teve um daqueles súbitos acessos de raiva
e saiu correndo da casa de Lucas.
Agora John corria pelas ruas, era novamente noite. Tudo estava calmo, as
pessoas já não se moviam e apenas as luzes amareladas dos postes o iluminavam.
Ele estava disposto a ir para casa, descansar e tomar algo bem forte como
Vodca. Caminhava por entre as ruas como se fosse um fantasma; já havia deixado
todos os sentimentos para trás e apenas pensava no que fazer. Seu telefone em
meio à correria tocou e ele viu, era Pedro. Ele não poderia fugir ainda mais
agora que de certa forma estava preso ao outro.
– Alô! Pedro o que foi?
– Venha à minha empresa agora.
– Não dá pra ser amanhã?
– Não, quero hoje. Agora. E não me faça esperar, tenho uma proposta pra lhe
fazer.
– Tudo bem, estou indo para sua casa.
– Não, venha para empresa. Estou trabalhando agora e lá em casa a Clarice está
recebendo as meninas.
– Ok.
John sentira que tudo aquilo havia sido estranho, eles conversaram como se tudo
fosse normal. Pedro precisava ser controlado e agora que John já tinha
conhecimento de tudo que acontecera na festa, ele brincaria com Pedro da forma
como o maior quisesse. John faria o joguinho de Pedro até ter tudo de volta.
Era arriscado, mas teria que tomar as providências.
Enquanto isso na casa de Clarice.
– Hey garotas. Entrem.
As meninas estavam agora em uma pequena reunião. As três sentadas na sala
de estar da casa de Clarice, comentavam sobre tudo que estava acontecendo.
Novidades de colégio e fofocas das outras garotas. Clarice levantou do sofá e
caminhou até o quarto. Pegou seu celular e discou o número do irmão.
– Pedro. Você vai chegar a que horas hoje?
– Bom, não sei se vou dormir em casa. As coisas estão meio estranhas por aqui,
tenho que trabalhar e não sei se vou conseguir acabar tudo hoje.
– Quer minha ajuda? Eu dispenso as meninas aqui e bom, a gente dá um jeito
junto.
– Não. Fique aí e se divirta. Tudo estará pronto até o fim de semana. Bernardo
chegará e verá que tudo está certo. Estou desligando, siga o plano viu. Conte
que transou com Lucas para ver como Jéssica fica e se quiser, ligue para o
Talles aparecer aí. Quero que a Alice esqueça o Lucas.
Clarice caminhou pelo quarto e em seguida se pôs a olhar a rua, onde tudo
parecia tranquilo, ingênuo. As coisas estavam muito mais complicadas do que há
dois anos e agora ela tinha deixado toda a inocência de lado. As armações
estavam dando certo. Ela pensou no que Pedro realmente queria com aquilo tudo,
mas logo voltou a realidade. Iria descer, brincar, armar e tudo mais.
Seu corpo desfilou por toda casa e quando já estava na cozinha ela pegou uma
daquelas antigas garrafas de vinho do seu pai. As meninas estavam lá sorrindo e
falando coisas sobre Barbara e as outras meninas da cidade. A garota desejou
que tudo desse certo e pôs a garrafa entre os dedos desfilando com um ar de
quem realmente estava esperando uma oportunidade para começar a falar.
– Aí... Não sei não, aquela Barbara é um porre! Vive enchendo o saco pra eu ir
dormir na casa dela – Alice demonstrava uma cara de nojo quando falava da
colega de sala.
– Bom, vamos parando e indo direto ao que interessa não é Jéssica?
– Hahahha! Estamos aqui para isso! Então sente-se e vamos beber vinho.
Jéssica estava mudada desde a festa do ultimo sábado. Ela parecia mais alegre e
menos ingênua, pronta pra fazer o que tivesse de ser feito a qualquer momento.
Definitivamente ela já tinha entrado na brincadeira há um bom tempo. Clarice
aos poucos se soltou e começou a falar.
– Gente! Tenho que contar uma coisa pra vocês...
– O que é? – Alice disse com os olhos brilhando. Não fazia ideia do que viria a
tona.
– Transei com Lucas no sábado.
– Como assim? Ele não faria isso, você só pode estar brincando. – Alice estava
meio alterada, a voz saia tremula e já não sorria mais.
– Sim, e foi na sua cama Jess.
– Ai que nojo! Ele é gato, mas acho que você poderia ter escolhido outro lugar.
Minha cama e minha casa não são um motel.
– Foi sem querer!– Clarice fingia uma expressão de vergonha, mas tudo não
passava de uma manipulação. Ela tinha que atuar e não pararia por nada.
– Não entendo como você foi fazer isso comigo. – Alice estava incrédula
com tudo aquilo – Todo mundo sabe que eu gosto dele! Prima, você é uma
vadia! Te odeio sua puta de esquina!!
Alice estava realmente fora do comum. O olhar brilhante de inocência tinha dado
lugar a uma raiva estranhamente inexistente às outras pessoas. Ela não era de
fazer escândalo nem de mostrar seus sentimentos assim facilmente. Tudo
estava correndo como Alicia desejara, a não ser o fato de que Talles estava
demorando muito para chegar. Ela não via a hora de poder sair com Jéssica e
deixar o garoto e Alice as “sós”.
– Calma Alice, você nunca se declarou ou saiu com ele. Supostamente ele nunca
foi seu. Você nunca teve coragem de dizer nada a ele.
– Cale a boca! Você sabe muito bem o que eu fiz, e por qual motivo foi. Ele não
me aceitaria se não fosse aquilo. Jéssica, um dia antes da morte dele, Lucas me
viu com outro garoto. Jamais ficaríamos juntos.
– Uau! Parece que eu estou fora da história. Vocês estão falando de Adam? Você
o traiu um dia antes da morte dele?
– Clarice soltava uma gargalhada sem poder esconder. Era muita sorte tudo
aquilo! Jéssica do lado dela e Alice revelando as coisas com uma facilidade não
tão comum.
– Sim, mas isso não quer dizer nada! Já se passaram dois anos desde que o Adam
morreu, somos diferentes agora. Mudamos não é?
– Sim Jess, agora somos ricas inconsequentes que dão festas em suas casas e são
traídas pelas amigas. Não é Clarice?
– Desculpa ! Não sabia que você realmente amava o Lucas. Eu também estava
bêbada e tudo. Não vou fazer mais nada, ok?
Clarice caminhou ao lado de Alice e deu um abraço fraterno. Tudo saíra como o
planejado e agora só faltava o idiota chegar pra tudo se concluir. Aos poucos
ela foi se soltando do abraço e voltando o corpo para a cozinha. Ela procurava
um remédio e não achava de modo algum.
– Garotas, eu tenho que ir ali em cima buscar umas coisas. Desemburra essa
cara aí viu, Alice? Já volto.
A garota subiu as escadas procurando ver onde estavam aqueles “remédios”.
Procurou entre as gavetas do seu quarto, no quarto de seu irmão e então só no
banheiro conseguiu achar tudo que precisava. Aproveitou o momento para ligar
para Talles, mas só disse o essencial.
– Quanto tempo falta pra você chegar?
– Já estou na porta da sua casa, comprei algumas bebidas.
– Tudo bem! Eu vou descer agora e dizer que estão faltando bebidas. Jogue as
que você comprou fora. Assim que entrar na minha casa eu direi que vou comprar
Vodca e levo Jess comigo. Aí você tem que fazer o resto entende? Entendeu o que
eu disse?
– Sim, mas e o remédio?
– Quando for me cumprimentar, aperte minha mão e lá vai estar o que você precisa.
Vou demorar ao máximo, até ligarei para John e ver onde ele está. Depois
empurro o Lucas pra Jess.
– Ok, estou esperando.
Ela desligou a chamada e pôs seu plano todo em ação. Disse às garotas que as
bebidas acabaram e que iria comprar mais. Alice e Jéssica decidiram ir juntas
porém quando abriram a porta da frente lá estava Talles. Meio perfumado
demais e arrumado como se fosse a um jantar importante. Todos se cumprimentaram
e com pouco tempo já estavam novamente dentro de casa conversando até que
Clarice e Jéssica decidiram sair. Estavam os dois agora dentro da casa,
sozinhos e completamente livres.
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De volta ao escritório de Pedro
John estava sem camisa e Pedro estava prestes a perder a noção do serviço que
começara no inicio da noite. Ele havia chamado John apenas para poder ter uma
companhia, contudo não dispensou em momento algum não se aproveitar de toda a
situação. Na verdade ele esperava o momento certo pra poder transar novamente
com o John. Não queria parecer que era um simples pervertido, até
mesmo porque o outro garoto estava voltando a se acostumar com tudo novamente.
Aquela situação estava ficando bem interessante, John não tinha reclamado
de nada e estava apenas em silencio.
O escritório era bem grande, não parecia nada com o que Pedro gostava de fazer,
mas sim o que era necessário para sua sobrevivência. A empresa rendia
praticamente milhões por ano e tudo aquilo não poderia ser entregue a outras
mãos. O trabalho era algo que Pedro estava começando a se acostumar novamente,
tudo se resumia a continuar a fazer as coisas como o pai fazia. Distribuía
bem o trabalho com os funcionários mais pouco os via pois sempre trabalhava de
noite. Tinha contratado uma série de administradores para ajuda-lo com tudo que
tinha que fazer. Era apenas um garoto, mas não ia jogar tudo para o alto sem
nem ao menos lutar por aquilo que o pai havia deixado.
Alguns minutos depois da chegado de John, Pedro já tinha esquecido o que fazia
ali. Largara todo o trabalho e agora estava olhando para o outro garoto. Seus
olhos eram inesquecíveis e seu corpo era tudo o que o ele desejava. Sempre foi
assim, desde a infância eles foram amigos e inimigos mais no final das contas
estavam lá, juntos. Pedro caminhou de encontro à John e o beijou, de uma forma
serena e tranquila que o fez perceber como aquilo era bom. O garoto menor
estava com ele e só com ele. Tudo o que ele queria, mesmo que fosse por uma
chantagem, era que em algum momento John se esquecesse disso.
John o abraçou carinhosamente, mas quando Pedro voltou a olhar o rosto de John
lá estava uma expressão de nojo, tristeza por tudo ser assim, por estar preso a
coisas que não queria; coisas que não podia e repugnava fazer. O garoto maior
não ligava tanto para os sentimentos de John, apenas fingia que tudo estava bem.
Continuaram a se acariciar. O corpo de Pedro pedia o de John .
– Eu quero você. – Pedro estava sorrindo, tudo era uma questão de gostar ou
não.
John não respondeu nada, apenas seguiu o que vinha fazendo. Passou as mãos pelo
corpo do garoto maior e lhe despiu com a naturalidade de quem já havia feito
coisas desse tipo milhares de vezes. Os corpos estavam em atrito, o suor corria
pela pele de John . Pedro passou-lhe a mão direita em volta dos olhos e boca e
o beijou. Sentiu assim, o gosto do outro garoto. Entre beijos e caricias Pedro
se pôs a dizer com uma voz mais aveludada.
– Viu, você sabe que é bom. Você gosta.
O menor não respondia, não falava nada. John não queria simplesmente ceder e dizer
aquilo que Pedro gostasse; se o fizesse, estaria demonstrando toda a farsa que
ele havia planejado. Ele não queria nada daquilo, mas ainda sim continuou. Num
ritmo entrosado eles se misturaram entre os papeis, livros e computadores da
sala. Pedro sorriu e como sempre o levou para o sofá. Estavam prestes a se
consumir, sentir o gosto do sexo, o prazer, pele por pele , o sabor de tudo
aquilo era diferente. Não era normal para John, porém para Pedro era algo que
lhe satisfazia, o fazia sentir-se mais vivo, sentir que estava na sua plenitude
e que realmente estava por cima de tudo que acontecia.
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Casa de Clarice
O corpo de
Talles parecia uma escultura sob a luz do luar, era a primeira vez que Alice ficava
com alguém e apesar de gostar do Lucas sabia que após tudo ter acontecido eles
nunca ficariam juntos. O quarto de Clarice agora estava mais acolhedor, o
carinho das horas passadas com o garoto fez com que se lembrasse como é ser
feliz, como é viver.
Ele
estava lá, em pé e encostado na parede, sem dizer uma palavra e sem olhar
diretamente para Alice, tudo havia acontecido rápido demais, ela tomara vinho e
quando mal tinha percebido já estava na cama, nua e sentindo o prazer do beijo
do garoto. O corpo do jovem era realmente bonito, ele corria todas as manhas
antes de ir à escola, também fazia parte do grupo de natação do colégio e
geralmente andava sempre em busca de praticar esportes.
A
garota estava muito confusa, ergueu seu corpo aos poucos e botou seu vestido
rapidamente com medo de alguém chegar e ver toda aquela cena, as coisas estavam
absolutamente loucas e as meninas
chegariam cedo ou tarde. O jovem garoto olhou para trás e sorriu com uma
expressão que certamente significava dizer que tudo estava bem e que as coisas
ficariam tranquilas.
Ela
desceu pelas escadas, procurou pelo banheiro tentando pentear seus cabelos
rapidamente para que não houvesse vestígio algum das coisas que realmente
aconteceram minutos atrás. Algum tempo depois ele estava lá sentado no sofá da
sala de estar e ela já saia do banheiro sorrindo como se nada tivesse
acontecido. Não muito tempo depois as meninas deram sinal de vida e entraram
pela casa fazendo muito barulho, pareciam estar bêbadas e ainda sim carregavam
três caixas de cerveja.
Todos
eles estavam sentados no sofá e agora se preparavam para um jogo de desafios e
verdades absolutas. Sentaram-se de uma forma circular e agora uma das tantas
garravas rodava. As perguntas foram tranquilas e nenhuma das coisas que saíram
da brincadeira foram tão fortes ou segredos, apenas se divertiam sem se alterar
demais. Nos desafios as coisas ocorreram mais agressivamente, eles estavam a
ponto de se despirem totalmente. Talles apenas de cueca, Alice apensas com as
roupas de baixo e as duas outras sem o sutiã tampando os seios com os braços
cruzados.
A
porta da frente da casa começou a fazer barulho, talvez seria algum entregador
de pizza ou Lucas. Clarice caminhou lentamente de um modo sensual e engraçado
até a porta da frente e quando abriu a porta ficou surpresa. Ele estava lá, era
pra chegar daqui a duas semanas mais agora nada importava, ele estava ali.
Parecia-se tanto com Pedro que com a quantidade de álcool no corpo Clarice queria acreditar que não era
ele.
–
Tio... O que está fazendo aqui?
–
Uma pequena visita hahah. E você por que está seminua? Não falamos sobre isso
na sua ultima ida a França?
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