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Vida Urbana: Capítulo 4


  

                Era segunda-feira, a aula já tinha acabado. O inicio da tarde era marcado pela incrível energia do sol e lá estava Clarice e John, sentados na grama do colégio encostados naquela árvore. Certamente era um salgueiro ou  algo do tipo. Clarice parecia quieta, o que não era normal. Eles ainda não tinham parado para conversar desde que ela voltara à cidade porque as coisas estavam embaraçadas demais. John se sentia usado e ela simplesmente queria vingança. Ele sabia o que estava por vir mais permaneceu imóvel, com os olhos meio abertos. Por fim depois de um longo período de silencio Clarice se pôs a dizer.
                – Bom, tenho que te contar uma coisa.
                – Diz então. Você vem aqui e interrompe minha paz enquanto poderia estar por aí me divertindo ­– John jamais esqueceria tudo que ela havia o feito de  mau.
                – Ér ... Na festa de sábado, bom ... Eu fiquei com o Lucas.
                A face de John continuou imóvel, isso não era nada perto do que ele estava vivendo, mas ainda sim era uma traição e uma coisa assim não podia ser simplesmente esquecida.
                – Eu não tenho nada haver com isso. ­– seu tom de voz agora era um pouco mais forte, ríspido – Só posso dizer que você realmente é um a vadia.
                O corpo do garoto agora se movia. Ele estava se levantando e com pouco tempo  já se afastava de Clarice que apenas permaneceu  sentada. John já tinha se decidido, ia atrás de Lucas e realmente procuraria saber de tudo que havia acontecido naquela festa. Seus passos se tornaram cada vez mais rápidos e com pouco tempo já estava  em frente à casa de Lucas. O garoto deu um pequeno suspiro e seguiu seu caminho. Bateu vagarosamente na porta e quando a mesma se abriu estava ele lá, o velho e grande amigo de John.
                – Ual! O que você está fazendo aqui? – Lucas disse enquanto sorria.
                –  Temos que conversar. Posso entrar?
                – Claro, só disfarce um pouco essa cara de merda. Hoje ainda é segunda.
                – Ok.
                Eles subiram as escadas viraram um pequeno corredor e já estavam no quarto de Lucas. Era um quarto típico, cartazes de bandas e muita bagunça. John caminhou até a cama e se sentou na beirada da mesma.
                – O que aconteceu na festa? – John estava com o mesmo olhar de antes, o olhar do qual só Clarice recebia, desprezo.
                – Bom, nada demais eu apenas tive que sair cedo – Lucas deu uma pausa em meio uma risada desconcertante e continuou a dizer –  Meu pai me ligou e pediu que eu viesse mais cedo para casa.
                –  Vai mentir pra mim Lucas? – Agora John estava com uma expressão de incredulidade.
                Lucas  agora realmente sabia o que John fazia em seu quarto. Ele queria saber o que havia acontecido, o que realmente Lucas havia feito com Clarice e ainda por cima teria de dizer sobre a conversa de Pedro. Lucas estava irritado com tudo aquilo, queria apenas que as férias chegassem o mais rápido possível. Viajaria para França e talvez não voltasse nunca mais.
                – Olha, eu não tenho nada haver com seus problemas e suas dúvidas. Estou farto de ter que participar dessas coisas desse grupinho idiota que, por ironia do destino, eu caí. Sou seu amigo realmente não posso negar isso, mas não lhe devo nenhuma satisfação.
                – Me diga. Por favor... – John estava enfim se entregando. Esperando que seu amigo lhe dissesse a verdade mesmo que isto lhe causasse dor.
                – Tudo bem. Essa é a ultima vez que me relato a você como uma criança faz aos pais. – Lucas tentou se acalmar e começou a contar a história. Disse tudo que havia acontecido e John não aguentou, teve um daqueles súbitos acessos de raiva e saiu correndo da casa de Lucas.
                Agora John corria pelas ruas, era novamente noite. Tudo estava calmo, as pessoas já não se moviam e apenas as luzes amareladas dos postes o iluminavam. Ele estava disposto a ir para casa, descansar e tomar algo bem forte como Vodca. Caminhava por entre as ruas como se fosse um fantasma; já havia deixado todos os sentimentos para trás e apenas pensava no que fazer. Seu telefone em meio à correria tocou e ele viu, era Pedro. Ele não poderia fugir ainda mais agora que de certa forma estava preso ao outro.
                – Alô! Pedro o que foi?
                – Venha à minha empresa agora.
                – Não dá pra ser amanhã?
                – Não, quero hoje. Agora. E não me faça esperar, tenho uma proposta pra lhe fazer.
                – Tudo bem, estou indo para sua casa.
                – Não, venha para empresa. Estou trabalhando agora e lá em casa a Clarice está recebendo as meninas.
                – Ok.
                John sentira que tudo aquilo havia sido estranho, eles conversaram como se tudo fosse normal. Pedro precisava ser controlado e agora que John já tinha conhecimento de tudo que acontecera na festa, ele brincaria com Pedro da forma como o maior quisesse. John faria o joguinho de Pedro até ter tudo de volta. Era arriscado, mas teria que tomar as providências.
Enquanto isso na casa de Clarice.

                – Hey garotas. Entrem.
                As meninas estavam agora  em uma pequena reunião. As três sentadas na sala de estar da casa de Clarice, comentavam sobre tudo que estava acontecendo. Novidades de colégio e fofocas das outras garotas. Clarice levantou do sofá e caminhou até o quarto. Pegou seu celular e discou o número do irmão.
                – Pedro. Você vai chegar a que horas hoje?
                – Bom, não sei se vou dormir em casa. As coisas estão meio estranhas por aqui, tenho que trabalhar e não sei se vou conseguir acabar tudo hoje.
                – Quer minha ajuda? Eu dispenso as meninas aqui e bom, a gente dá um jeito junto.
                – Não. Fique aí e se divirta. Tudo estará pronto até o fim de semana. Bernardo chegará e verá que tudo está certo. Estou desligando, siga o plano viu. Conte que transou com Lucas para ver como Jéssica fica e se quiser, ligue para o Talles aparecer aí. Quero  que  a Alice esqueça o Lucas.
                Clarice caminhou pelo quarto e em seguida se pôs a olhar a rua, onde tudo parecia tranquilo, ingênuo. As coisas estavam muito mais complicadas do que há dois anos e agora ela tinha deixado toda a inocência de lado. As armações estavam dando certo. Ela pensou no que Pedro realmente queria com aquilo tudo, mas logo voltou a realidade. Iria descer, brincar, armar e tudo mais.
                Seu corpo desfilou por toda casa e quando já estava na cozinha ela pegou uma daquelas antigas garrafas de vinho do seu pai. As meninas estavam lá sorrindo e falando coisas sobre Barbara e as outras meninas da cidade. A garota desejou que tudo desse certo e pôs a garrafa entre os dedos desfilando com um ar de quem realmente estava esperando uma oportunidade para começar a falar.
                – Aí... Não sei não, aquela Barbara é um porre! Vive enchendo o saco pra eu ir dormir na casa dela – Alice demonstrava uma cara de nojo quando falava da colega de sala.
                – Bom, vamos parando e indo direto ao que interessa não é Jéssica?
                – Hahahha! Estamos aqui para isso! Então sente-se e vamos beber vinho.
                Jéssica estava mudada desde a festa do ultimo sábado. Ela parecia mais alegre e menos ingênua, pronta pra fazer o que tivesse de ser feito a qualquer momento. Definitivamente ela já tinha entrado na brincadeira há um bom tempo. Clarice aos poucos se soltou e começou a falar.
                – Gente! Tenho que contar uma coisa pra vocês...
                – O que é? – Alice disse com os olhos brilhando. Não fazia ideia do que viria a tona.
                – Transei com Lucas no sábado.
                – Como assim? Ele não faria isso, você só pode estar brincando. – Alice estava meio alterada, a voz saia tremula e já não sorria mais.
                – Sim, e foi na sua cama Jess.
                – Ai que nojo! Ele é gato, mas acho que você poderia ter escolhido outro lugar. Minha cama e minha casa não são um motel.
                – Foi sem querer!– Clarice fingia uma expressão de vergonha, mas tudo não passava de uma manipulação. Ela tinha que atuar e não pararia por nada.
                – Não entendo como você foi fazer isso comigo.  – Alice estava incrédula com tudo aquilo  – Todo mundo sabe que eu gosto dele! Prima, você é uma vadia! Te odeio sua puta de esquina!!
                Alice estava realmente fora do comum. O olhar brilhante de inocência tinha dado lugar a uma raiva estranhamente inexistente às outras pessoas. Ela não era de fazer escândalo nem de mostrar seus sentimentos assim facilmente.  Tudo estava correndo como Alicia desejara, a não ser o fato de que Talles estava demorando muito para chegar. Ela não via a hora de poder sair com Jéssica e deixar o garoto e Alice as “sós”.
                – Calma Alice, você nunca se declarou ou saiu com ele. Supostamente ele nunca foi seu. Você nunca teve coragem de dizer nada a ele.
                – Cale a boca! Você sabe muito bem o que eu fiz, e por qual motivo foi. Ele não me aceitaria se não fosse aquilo. Jéssica, um dia antes da morte dele, Lucas me viu com outro garoto. Jamais ficaríamos juntos.
                – Uau! Parece que eu estou fora da história. Vocês estão falando de Adam? Você o traiu  um dia antes da morte dele?  – Clarice soltava uma gargalhada sem poder esconder. Era muita sorte tudo aquilo! Jéssica do lado dela e Alice revelando as coisas com uma facilidade não tão comum.
                – Sim, mas isso não quer dizer nada! Já se passaram dois anos desde que o Adam morreu, somos diferentes agora. Mudamos não é?
                – Sim Jess, agora somos ricas inconsequentes que dão festas em suas casas e são traídas pelas amigas. Não é Clarice?
                – Desculpa ! Não sabia que você realmente amava o Lucas. Eu também estava bêbada e tudo. Não vou fazer mais nada, ok?
                Clarice caminhou ao lado de Alice e deu um abraço fraterno. Tudo saíra como o planejado e agora só faltava o idiota chegar pra tudo se concluir. Aos poucos ela foi se soltando do abraço e voltando o corpo para a cozinha. Ela procurava um remédio e não achava de modo algum.
                – Garotas, eu tenho que ir ali em cima buscar umas coisas. Desemburra essa cara aí viu, Alice? Já volto.
                A garota subiu as escadas  procurando ver onde estavam aqueles “remédios”. Procurou entre as gavetas do seu quarto, no quarto de seu irmão e então só no banheiro conseguiu achar tudo que precisava. Aproveitou o momento para ligar para Talles, mas só disse o essencial.
                – Quanto tempo falta pra você chegar?
                – Já estou na porta da sua casa, comprei algumas bebidas.
                – Tudo bem! Eu vou descer agora e dizer que estão faltando bebidas. Jogue as que você comprou fora. Assim que entrar na minha casa eu direi que vou comprar Vodca e levo Jess comigo. Aí você tem que fazer o resto entende? Entendeu o que eu disse?
                – Sim, mas e o remédio?
                – Quando for me cumprimentar, aperte minha mão e lá vai estar o que você precisa. Vou demorar ao máximo, até ligarei para John e ver onde ele está. Depois empurro o Lucas pra Jess.
                – Ok, estou esperando.
                Ela desligou a chamada e pôs seu plano todo em ação. Disse às garotas que as bebidas acabaram e que iria comprar mais. Alice e Jéssica decidiram ir juntas porém  quando abriram a porta da frente lá estava Talles. Meio perfumado demais e arrumado como se fosse a um jantar importante. Todos se cumprimentaram e com pouco tempo já estavam novamente dentro de casa conversando até que Clarice e Jéssica decidiram sair. Estavam os dois agora dentro da casa, sozinhos e completamente livres.
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De volta ao escritório de Pedro

                John estava sem camisa e Pedro estava prestes a perder a noção do serviço que começara no inicio da noite. Ele havia chamado John apenas para poder ter uma companhia, contudo não dispensou em momento algum não se aproveitar de toda a situação. Na verdade ele esperava o momento certo pra poder transar novamente com o John. Não  queria parecer que era um simples  pervertido, até mesmo porque o outro garoto estava voltando a se acostumar com tudo novamente. Aquela situação estava ficando bem interessante, John  não tinha reclamado de nada e estava apenas em silencio.
                O escritório era bem grande, não parecia nada com o que Pedro gostava de fazer, mas sim o que era necessário para sua sobrevivência. A empresa rendia praticamente milhões por ano e tudo aquilo não poderia ser entregue a outras mãos. O trabalho era algo que Pedro estava começando a se acostumar novamente, tudo se resumia a continuar  a fazer as coisas como o pai fazia. Distribuía bem o trabalho com os funcionários mais pouco os via pois sempre trabalhava de noite. Tinha contratado uma série de administradores para ajuda-lo com tudo que tinha que fazer. Era apenas um garoto, mas não ia jogar tudo para o alto sem nem ao menos lutar por aquilo que o pai havia deixado.
                Alguns minutos depois da chegado de John, Pedro já tinha esquecido o que fazia ali. Largara todo o trabalho e agora estava olhando para o outro garoto. Seus olhos eram inesquecíveis e seu corpo era tudo o que o ele desejava. Sempre foi assim, desde a infância eles foram amigos e inimigos mais no final das contas estavam lá, juntos. Pedro caminhou de encontro à John e o beijou, de uma forma serena e tranquila que o fez perceber como aquilo era bom. O garoto menor estava com ele e só com ele. Tudo o que ele queria, mesmo que fosse por uma chantagem, era que em algum momento John se esquecesse disso.
                John o abraçou carinhosamente, mas quando Pedro voltou a olhar o rosto de John lá estava uma expressão de nojo, tristeza por tudo ser assim, por estar preso a coisas que não queria; coisas que não podia e repugnava fazer. O garoto maior não ligava tanto para os sentimentos de John, apenas fingia que tudo estava bem. Continuaram  a se acariciar. O corpo de Pedro pedia o de John .
                – Eu quero você. – Pedro estava sorrindo, tudo era uma questão de gostar ou não.
                John não respondeu nada, apenas seguiu o que vinha fazendo. Passou as mãos pelo corpo do garoto maior e lhe despiu com a naturalidade de quem já havia feito coisas desse tipo milhares de vezes. Os corpos estavam em atrito, o suor corria pela pele de John . Pedro passou-lhe a mão direita em volta dos olhos e boca e o beijou. Sentiu assim, o gosto do outro garoto. Entre beijos e caricias Pedro se pôs a dizer com uma voz mais aveludada.
                – Viu, você sabe que é bom. Você gosta.
                O menor não respondia, não falava nada. John não queria simplesmente ceder e dizer aquilo que Pedro gostasse; se o fizesse, estaria demonstrando toda a farsa que ele havia planejado. Ele não queria nada daquilo, mas ainda sim continuou. Num ritmo entrosado eles se misturaram entre os papeis, livros e computadores da sala. Pedro sorriu e como sempre o levou para o sofá. Estavam prestes a se consumir, sentir o gosto do sexo, o prazer, pele por pele , o sabor de tudo aquilo era diferente. Não era normal para John, porém para Pedro era algo que lhe satisfazia, o fazia sentir-se mais vivo, sentir que estava na sua plenitude e que realmente estava por cima de tudo que acontecia.
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Casa de Clarice

               O corpo de Talles parecia uma escultura sob a luz do luar, era a primeira vez que Alice ficava com alguém e apesar de gostar do Lucas sabia que após tudo ter acontecido eles nunca ficariam juntos. O quarto de Clarice agora estava mais acolhedor, o carinho das horas passadas com o garoto fez com que se lembrasse como é ser feliz, como é viver.
                Ele estava lá, em pé e encostado na parede, sem dizer uma palavra e sem olhar diretamente para Alice, tudo havia acontecido rápido demais, ela tomara vinho e quando mal tinha percebido já estava na cama, nua e sentindo o prazer do beijo do garoto. O corpo do jovem era realmente bonito, ele corria todas as manhas antes de ir à escola, também fazia parte do grupo de natação do colégio e geralmente andava sempre em busca de praticar esportes.
                A garota estava muito confusa, ergueu seu corpo aos poucos e botou seu vestido rapidamente com medo de alguém chegar e ver toda aquela cena, as coisas estavam absolutamente loucas e  as meninas chegariam cedo ou tarde. O jovem garoto olhou para trás e sorriu com uma expressão que certamente significava dizer que tudo estava bem e que as coisas ficariam tranquilas.
                Ela desceu pelas escadas, procurou pelo banheiro tentando pentear seus cabelos rapidamente para que não houvesse vestígio algum das coisas que realmente aconteceram minutos atrás. Algum tempo depois ele estava lá sentado no sofá da sala de estar e ela já saia do banheiro sorrindo como se nada tivesse acontecido. Não muito tempo depois as meninas deram sinal de vida e entraram pela casa fazendo muito barulho, pareciam estar bêbadas e ainda sim carregavam três caixas de cerveja.
                Todos eles estavam sentados no sofá e agora se preparavam para um jogo de desafios e verdades absolutas. Sentaram-se de uma forma circular e agora uma das tantas garravas rodava. As perguntas foram tranquilas e nenhuma das coisas que saíram da brincadeira foram tão fortes ou segredos, apenas se divertiam sem se alterar demais. Nos desafios as coisas ocorreram mais agressivamente, eles estavam a ponto de se despirem totalmente. Talles apenas de cueca, Alice apensas com as roupas de baixo e as duas outras sem o sutiã tampando os seios com os braços cruzados.
                A porta da frente da casa começou a fazer barulho, talvez seria algum entregador de pizza ou Lucas. Clarice caminhou lentamente de um modo sensual e engraçado até a porta da frente e quando abriu a porta ficou surpresa. Ele estava lá, era pra chegar daqui a duas semanas mais agora nada importava, ele estava ali. Parecia-se tanto com Pedro que com a quantidade de álcool no  corpo Clarice queria acreditar que não era ele.
                – Tio... O que está fazendo aqui?
                – Uma pequena visita hahah. E você por que está seminua? Não falamos sobre isso na sua ultima ida a França?
               
                 

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