O dia estava estranhamente nublado, o clima parecia ter
multado muito rápido desde dois dias atrás. As arvores dançavam com suas folhas
planando de um lado para o outro e o cheiro de umidade se espalhava por toda
cidade. Bernardo já estava saindo quando Pedro e Clarice o interceptaram.
– Tio
leva a gente pra escola hoje? Pode ser?
– Ok,
só não se acostumem com isso sempre.
Em
poucos instantes todos estavam dentro do
carro e toda a viajem parecia ser tranquila, os irmãos nada disseram sobre a
festa para o tio e o mesmo nem se preocupou em saber no que as duas crianças
andaram fazendo na festa do tal garoto Talles.
A
escola se aproximava ainda mais e com um cumprimento conservador os dois saíram
do carro. O céu mais do que nunca estava marcando chuva, parecia que realmente
viria uma tempestade por aí. Pedro caminhou ao lado de Clarice todo o tempo,
cruzaram uma, duas, três vezes os corredores e enfim chegaram à sala de aula.
Todos
os alunos já estavam sentados, era estranho ver todos ali calados, mais era
quase natural em um dia de chuva estarem todos tristes. Pedro sem nenhum pudor
se aproximou de John e o cumprimentou, todos os observaram, então o único
grunhido que o maior fez foi dizer:
–
Precisamos conversar hoje lá em casa.
– Tudo
bem! Mais me desculpe antes de tudo, pela festa.
– Tudo
bem – Pedro abriu um sorriso um tanto forçado e continuou – Houve alguma
tarefa?
– Não,
mais temos trabalho a fazer e é pra semana que vem.
A
conversa se prolongou, sem ter realmente um objetivo definido, já do outro lado
da sala Lucas observava Jéssica. Estava pensando no que realmente fazer, ela já
tinha mostrado interesse nele desde o primeiro segundo que se conheceram então
realmente haveria em toda aquela confusão um sentindo interessante para o garoto.
– Jéssica,
como você está?
– Senti
sua falta. Por que não me ligou?
Jéssica
não o deixou responder, tinha faltado os dois últimos dias desde a festa. Ela havia
ficado com tanta vergonha que não conseguia se explicar por ter roubado o
garoto de Clarice. Contudo ela já entendia que tudo já estava acontecendo e por
mais que quisesse não poderia voltar atrás. Antes que Lucas pudesse responder a
pergunta feita pela garota, a mesma o beijou. Curvou o corpo e empurrou a mesa
e continuou a beijá-lo, e por uma surpresa enorme nesse mesmo momento Clarice
estava conversando com John e para não se sentir humilhada não houve outra
saída a beijar John ali mesmo, sem nenhum pudor a garota o puxou para seu
encontro.
O
professor porém, interrompeu toda a cena e acabou com aquele joguete perverso.
As aulas durante toda a manha ocorreram tranquilamente. Já era hora do almoço,
todos estavam dispostos no refeitório e lá fora uma tempestade começava a se
formar. Sabiam que provavelmente seriam dispensados após o almoço, certamente a
escola não gostaria de se responsabilizar por danos aos garotos já que as
instalações eram um tanto antigas.
Pedro
estava sentado em uma mesa e aos poucos todos os outros foram se sentando ao
seu lado. Era estranho mais mesmo com aquela situação todos ficavam juntos, o
vinculo estava formado e agora nem mesmo o antigo Adam podia mudar se estivesse
ali.
– Gente
! Vamos embora, acho melhor nós sairmos agora, antes que comece a ficar tudo louco
por aqui.
–
Realmente. Bom alguém quer ir lá em casa? – Jéssica havia deixado a primeira
abertura em evidencia.
–
Claro, vamos Alice – Clarice fez uma expressão de contentamento, certamente
tudo não passava de armação mais a garota já havia traçado uma meta.
– Eu
não posso.
–
Garota eu não te perguntei, eu afirmei que você vai comigo – Clarice sorriu –
Nós temos que ir, é uma oportunidade ótima para assistirmos a Filha do Mal.
– Ah!
Tudo bem.
– E
você John quer ir lá em casa hoje?
– Lucas
não vai dar cara, agora vou ter que ir na casa do Pedro fazer um trabalho de
química.
–
Entendo.
Todos
já se despediam e em pouco tempo Pedro e John já haviam entrado em casa, caía
uma chuva forte e os dois garotos estavam literalmente molhados. O garoto maior
sorria, era bom se sentir assim e ele gostava da ideia de ter uma tarde inteira
com o menor, sem que ninguém o interrompesse.
John
tirou a camisa e pediu uma toalha ao dono da casa. Os dois caminharam e aos
poucos já estavam no segundo andar. O banheiro era grande então os dois
entraram juntos sem nenhuma preocupação. John passou a toalha pelo corpo e aos
poucos foi tirando a roupa. Pedro não soube o que dizer, não reparou em nada
simplesmente botou pra fora o que tinha pra dizer:
– Que
cena é aquela que vocês fizeram na festa?
– Foi
sem querer, eu estava ajudando Clarice e do nada nos beijamos.
– Você
deve ter adorado, mais escuta bem o que vou te dizer. – O rosto de Pedro estava
vibrando de raiva e a única coisa que se conseguia ver, era sua expressão de
seriedade. – Você a partir de agora só fica com quem EU QUERO. Entendeu?
–
Entendi sim, mas o que vai fazer se eu não o obedecer?
–
Coisas como isso.
Nesse
momento Pedro alavancou com toda força seu corpo pra cima do menor, John estava
sem ação e por isso o maior lhe feriu com inúmeros socos e pontapés. Pedro
depois de se aliviar não teve outra opção a se ver no que se tornou. Repugnou a
si mesmo por ter feito aquilo e então ajoelhou, John estava deitado, curvado
sobre os próprios joelhos, o maior se aproximou e o abraçou, Pedro chorava
descontroladamente e pedia desculpas. Realmente as coisas tinham passado do
limite mais os dois tinham o elo, não se moveram, não disseram mais nada. Continuaram
abraçados em meio a dor, raiva e talvez
uma paixão obsessiva.
Na casa
de Jéssica as coisas estavam mais tranquilas, as meninas vestiam aqueles
moletons de inverno e pareciam querer dormir, o tédio já estava deixando
Clarice impaciente, havia várias coisas das quais ela poderia fazer, pensou em
chamar o garoto da pizzaria só pra
brincar com joguinhos de sedução, mais essa ideia logo se dissipou. Ela notou
os olhos de Jéssica, a garota parecia estar com medo de alguma confusão e a
cima de tudo ela não tinha lançado nenhum olhar para Clarice.
– Gente.
Não quero mais assistir esse filme, todo mundo sabe que a mocinha sempre morre.
– Então
vamos fazer o que Jéssica? – Alice perguntou sem pretensão alguma.
– Bom,
vamos comer e decidir isso, a torta de frango já deve ter ficado pronta.
– Jéss
eu tenho uma ótima ideia. Por que a gente não brinca de EU NUNCA.
– Tu...
Tudo bem – Jéssica estava gaguejando e um súbito medo havia percorrido seu
corpo.
– Então
vamos, vamos beber de tarde, é bom que com essa tempestade nos mantemos
quentes.
– Nossa
essa foi péssima prima – Clarice estava rindo, tanto pela piadinha enfadonha
quanto pela situação que já estava por vir.
–
Cerveja ou Vodca galera?
– As
duas Jéss, começamos com Vodca e terminamos na cerveja.
– Ual.
Vamos ter que comer antes. Vamos.
As
meninas já estavam comendo e subitamente outra ideia veio à cabeça de Clarice.
– Vamos
chamar mais algumas meninas pra vir aqui?
– Tudo
bem mais não pode ser qualquer uma não, até porque sabemos que essa brincadeira
sempre termina com todo mundo caindo morto.
– Vou
ligar pra Barbara , Lara e Carol.
– Ok.
–
Clarice diga a elas pra trazerem roupas pra dormir, já vi que ficaremos aqui à
tarde e a noite toda.
Em meia
hora todas as garotas estavam ali, cervejas por todo lado e som alto. As
garotas estavam dançando, algumas se tocavam, fingindo serem homens e mulheres,
era tudo uma brincadeira. Barbara dançava como um stripper e Clarice ria
piamente pelo ar de profissional dela.
As duas se conheciam já de um verão em
Lisboa, eram amigas desde a infância mais se afastaram desde os boatos
sobre Clarice ter roubado o ex-namorado de Lara. Era interessante bom ver que
as “novas garotas” se davam bem e encaixavam no grupo perfeitamente.
– B
tira a roupa aí?
– Eu, por quê?
– Tu tá com cara daquelas putas dos bares de
beira estrada do Texas.
–
Haha... vocês são todas vadias.
– Ah!
Eu vou te ajudar então – Clarice se levantou e tirou a blusa.
– Vamos
garotas, todas venham.
Em
instantes todas as garotas estavam girando suas blusas, dançavam desciam até o
chão, sensualizavam umas para as outras e gritavam jogando seus cabelos de um
lado para o outro. Dançaram, dançaram e dançaram até se cansar. Já estavam
todas esparramadas pelo chão do quarto quando Clarice disse.
– Acho
que já tá na hora da gente brincar. – ela olhava maliciosamente para Alice.
– Tá,
então gente vamos, EU NUNCA.
Todas
as garotas se dispuseram a brincar e em pouco tempo já estavam sentadas em
forma de um circulo. Clarice botou a garrafa de Vodca no centro do circulo e os
copos estavam todos cheios já. As meninas começaram a rir e esperaram
ansiosamente, pro começo.
– Quem
começa? – Alice perguntou.
– Vai
lá Jéss. Tu é a dona da casa .
– Ok.
Eu nunca ...transei com o Talles.
O
momento foi engraçado as garotas começaram a sorrir e em pouco tempo todas as
garotas se olhavam e a única a beber foi Alice. Ela bebeu um copo duplo e
retrucou logo em seguida:
– Nunca
roubei o namorado da minha amiga.
Clarice
gostou daquele momento impulsivo, mais ao mesmo tempo foi ruim porque as únicas
a não beber foram a própria Alice e a Lara. Clarice não deixou que o momento
passasse despercebido e voluntariamente provocou Jéssica dizendo algumas coisas
nada convencionais:
– Tá aí
vadia. Tu roubou o meu Lucas.
– A vai
a merda primeiro tu tá na minha casa e segundo foi ao mesmo tempo que você
agarrou o John, se estivéssemos juntas naquele momento e Pedro não
interrompesse eu não duvidava que você quisesse fazer sexo com os dois ao mesmo
tempo.
Clarice
não respondeu, apenas puxou o cabelo da garota e começou a estapear tudo o que
via pela frente, as duas garotas começaram a brigar feio e nenhuma das outras
ousou interferir por um tempo, rostos arranhados roxões pelo corpo e boca
sangrando foi o que resultou a briga.
– Alice
e Barba, vamos embora AGORA.
As
garotas se caminharam para a casa de Alice e lá resolveram apenas assistir tv e
conversar. Na casa de Pedro os dois agora estavam na cama, um acariciava o
outro e nesse momento John não repugnava nem sentia ódio de Pedro apenas um
sentimento o invadia, pena.
– Você
não tá com raiva de mim não? – Pedro se sentia realmente vulnerável,
passou a mão direita pelo peito de John
e aos poucos foi tocando os ferimentos causados por ele.
– Não,
você sempre foi assim e a culpa não é só sua. –sentindo o toque em um de seus
machucados John resmungou e prosseguiu – Você tem que aprender a se controlar
assim como me ensinou tantas vezes, lembra da nossa infância?
– Sim
lembro mais não gosto de voltar a esse tempo. Por que está sendo gentil comigo?
Dando carinho? Você nunca gostou do que acontece com nós, você sempre me achou
um doente, e sabe o que eu sou, porque você está fingindo gostar de mim agora?
Logo depois de ter lhe feito isso – a mão de Pedro passou por outro ferimento e
nesse momento John interrompeu e o menor a segurou.
– Por
que apesar de tudo você sempre me ajudou, com os motivos errados e modos nada normais.
Se você insiste nessa chantagem eu não vou mais ficar nervoso ou com raiva, vou
simplesmente deixar ver até onde você vai. Ambos sabemos que você é doente.
– Não
sou DOENTE, isso é apenas vingança. A culpa não era só minha e de minha irmã
John, todos contribuíram, todos mataram Adam e todos tem que pagar, sofrer como
nós sofremos. – Pedro pareceu recobrar a consciência e aquele momento de
vulnerabilidade se dissipou. – Agora se cale e vamos continuar aqui, deitados
um ao lado do outro.
– Tudo
bem – a raiva se fez novamente no coração de John e ele disse – Vai então me
chupa ou sei lá faz aquilo que você gosta de fazer, me usa pro seu prazer – As mãos de John foram até a cabeça do maior
e pressionou com força a cabeça pelo seu peito.
– Se
você pediu. – a face de John ficou triste e o medo se apoderou novamente,
repugnou o que havia por vir e enfim se calou.
Pedro
se movia enquanto acariciava o corpo de John e quando menos esperava a porta se
abriu.
– Que
merda é essa?
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