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Vida Urbana: Capítulo 6


                O dia estava estranhamente nublado, o clima parecia ter multado muito rápido desde dois dias atrás. As arvores dançavam com suas folhas planando de um lado para o outro e o cheiro de umidade se espalhava por toda cidade. Bernardo já estava saindo quando Pedro e Clarice o interceptaram.
                – Tio leva a gente pra escola hoje? Pode ser?
                – Ok, só não se acostumem com isso sempre.
                Em poucos instantes  todos estavam dentro do carro e toda a viajem parecia ser tranquila, os irmãos nada disseram sobre a festa para o tio e o mesmo nem se preocupou em saber no que as duas crianças andaram fazendo na festa do tal garoto Talles.
                A escola se aproximava ainda mais e com um cumprimento conservador os dois saíram do carro. O céu mais do que nunca estava marcando chuva, parecia que realmente viria uma tempestade por aí. Pedro caminhou ao lado de Clarice todo o tempo, cruzaram uma, duas, três vezes os corredores e enfim chegaram à sala de aula.
                Todos os alunos já estavam sentados, era estranho ver todos ali calados, mais era quase natural em um dia de chuva estarem todos tristes. Pedro sem nenhum pudor se aproximou de John e o cumprimentou, todos os observaram, então o único grunhido que o maior fez foi dizer:
                – Precisamos conversar hoje lá em casa.
                – Tudo bem! Mais me desculpe antes de tudo, pela festa.
                – Tudo bem – Pedro abriu um sorriso um tanto forçado e continuou – Houve alguma tarefa?
                – Não, mais temos trabalho a fazer e é pra semana que vem.
                A conversa se prolongou, sem ter realmente um objetivo definido, já do outro lado da sala Lucas observava Jéssica. Estava pensando no que realmente fazer, ela já tinha mostrado interesse nele desde o primeiro segundo que se conheceram então realmente haveria em toda aquela confusão um sentindo interessante para  o garoto.
                – Jéssica, como você está?
                – Senti sua falta. Por que não me ligou?
                Jéssica não o deixou responder, tinha faltado os dois últimos dias desde a festa. Ela havia ficado com tanta vergonha que não conseguia se explicar por ter roubado o garoto de Clarice. Contudo ela já entendia que tudo já estava acontecendo e por mais que quisesse não poderia voltar atrás. Antes que Lucas pudesse responder a pergunta feita pela garota, a mesma o beijou. Curvou o corpo e empurrou a mesa e continuou a beijá-lo, e por uma surpresa enorme nesse mesmo momento Clarice estava conversando com John e para não se sentir humilhada não houve outra saída a beijar John ali mesmo, sem nenhum pudor a garota o puxou para seu encontro.
                O professor porém, interrompeu toda a cena e acabou com aquele joguete perverso. As aulas durante toda a manha ocorreram tranquilamente. Já era hora do almoço, todos estavam dispostos no refeitório e lá fora uma tempestade começava a se formar. Sabiam que provavelmente seriam dispensados após o almoço, certamente a escola não gostaria de se responsabilizar por danos aos garotos já que as instalações eram um tanto antigas.
                Pedro estava sentado em uma mesa e aos poucos todos os outros foram se sentando ao seu lado. Era estranho mais mesmo com aquela situação todos ficavam juntos, o vinculo estava formado e agora nem mesmo o antigo Adam podia mudar se estivesse ali.
                – Gente ! Vamos embora, acho melhor nós sairmos agora, antes que comece a ficar tudo louco por aqui.
                – Realmente. Bom alguém quer ir lá em casa? – Jéssica havia deixado a primeira abertura em evidencia.
                – Claro, vamos Alice – Clarice fez uma expressão de contentamento, certamente tudo não passava de armação mais a garota já havia traçado uma meta.
                – Eu não posso.
                – Garota eu não te perguntei, eu afirmei que você vai comigo – Clarice sorriu – Nós temos que ir, é uma oportunidade ótima para assistirmos a Filha do Mal.
                – Ah! Tudo bem.
                – E você John quer ir lá em casa hoje?
                – Lucas não vai dar cara, agora vou ter que ir na casa do Pedro fazer um trabalho de química.
                – Entendo.
                Todos já se despediam e em pouco tempo Pedro e John já haviam entrado em casa, caía uma chuva forte e os dois garotos estavam literalmente molhados. O garoto maior sorria, era bom se sentir assim e ele gostava da ideia de ter uma tarde inteira com o menor, sem que ninguém o interrompesse.
                John tirou a camisa e pediu uma toalha ao dono da casa. Os dois caminharam e aos poucos já estavam no segundo andar. O banheiro era grande então os dois entraram juntos sem nenhuma preocupação. John passou a toalha pelo corpo e aos poucos foi tirando a roupa. Pedro não soube o que dizer, não reparou em nada simplesmente botou pra fora o que tinha pra dizer:
                – Que cena é aquela que vocês fizeram na festa?
                – Foi sem querer, eu estava ajudando Clarice e do nada nos beijamos.
                – Você deve ter adorado, mais escuta bem o que vou te dizer. – O rosto de Pedro estava vibrando de raiva e a única coisa que se conseguia ver, era sua expressão de seriedade. – Você a partir de agora só fica com quem EU QUERO. Entendeu?
                – Entendi sim, mas o que vai fazer se eu não o obedecer?
                – Coisas como isso.
                Nesse momento Pedro alavancou com toda força seu corpo pra cima do menor, John estava sem ação e por isso o maior lhe feriu com inúmeros socos e pontapés. Pedro depois de se aliviar não teve outra opção a se ver no que se tornou. Repugnou a si mesmo por ter feito aquilo e então ajoelhou, John estava deitado, curvado sobre os próprios joelhos, o maior se aproximou e o abraçou, Pedro chorava descontroladamente e pedia desculpas. Realmente as coisas tinham passado do limite mais os dois tinham o elo, não se moveram, não disseram mais nada. Continuaram  abraçados em meio a dor, raiva e talvez uma paixão obsessiva.
                Na casa de Jéssica as coisas estavam mais tranquilas, as meninas vestiam aqueles moletons de inverno e pareciam querer dormir, o tédio já estava deixando Clarice impaciente, havia várias coisas das quais ela poderia fazer, pensou em chamar o  garoto da pizzaria só pra brincar com joguinhos de sedução, mais essa ideia logo se dissipou. Ela notou os olhos de Jéssica, a garota parecia estar com medo de alguma confusão e a cima de tudo ela não tinha lançado nenhum olhar para Clarice.
                – Gente. Não quero mais assistir esse filme, todo mundo sabe que a mocinha sempre morre.
                – Então vamos fazer o que Jéssica? – Alice perguntou sem pretensão alguma.
                – Bom, vamos comer e decidir isso, a torta de frango já deve ter ficado pronta.
                – Jéss eu tenho uma ótima ideia. Por que a gente não brinca de EU NUNCA.
                – Tu... Tudo bem – Jéssica estava gaguejando e um súbito medo havia percorrido seu corpo.
                – Então vamos, vamos beber de tarde, é bom que com essa tempestade nos mantemos quentes.
                – Nossa essa foi péssima prima – Clarice estava rindo, tanto pela piadinha enfadonha quanto pela situação que já estava por vir.
                – Cerveja ou Vodca galera?
                – As duas Jéss, começamos com Vodca e terminamos na cerveja.
                – Ual. Vamos ter que comer antes. Vamos.
                As meninas já estavam comendo e subitamente outra ideia veio à cabeça de Clarice.
                – Vamos chamar mais algumas meninas pra vir aqui?
                – Tudo bem mais não pode ser qualquer uma não, até porque sabemos que essa brincadeira sempre termina com todo mundo caindo morto.
                – Vou ligar pra Barbara , Lara e Carol.
                – Ok.
                – Clarice diga a elas pra trazerem roupas pra dormir, já vi que ficaremos aqui à tarde e a noite toda.
                Em meia hora todas as garotas estavam ali, cervejas por todo lado e som alto. As garotas estavam dançando, algumas se tocavam, fingindo serem homens e mulheres, era tudo uma brincadeira. Barbara dançava como um stripper e Clarice ria piamente pelo ar de  profissional dela. As duas se conheciam já de um verão em  Lisboa, eram amigas desde a infância mais se afastaram desde os boatos sobre Clarice ter roubado o ex-namorado de Lara. Era interessante bom ver que as “novas garotas” se davam bem e encaixavam no grupo perfeitamente.
                – B tira a roupa aí?
                –  Eu, por quê?
                –  Tu tá com cara daquelas putas dos bares de beira estrada do Texas.
                – Haha... vocês são todas vadias.
                – Ah! Eu vou te ajudar então – Clarice se levantou e tirou a blusa.
                – Vamos garotas, todas venham.
                Em instantes todas as garotas estavam girando suas blusas, dançavam desciam até o chão, sensualizavam umas para as outras e gritavam jogando seus cabelos de um lado para o outro. Dançaram, dançaram e dançaram até se cansar. Já estavam todas esparramadas pelo chão do quarto quando Clarice disse.
                – Acho que já tá na hora da gente brincar. – ela olhava maliciosamente para Alice.
                – Tá, então gente vamos, EU NUNCA.
                Todas as garotas se dispuseram a brincar e em pouco tempo já estavam sentadas em forma de um circulo. Clarice botou a garrafa de Vodca no centro do circulo e os copos estavam todos cheios já. As meninas começaram a rir e esperaram ansiosamente, pro começo.
                – Quem começa? – Alice perguntou.
                – Vai lá Jéss. Tu é a dona da casa .
                – Ok. Eu nunca ...transei com o Talles.
                O momento foi engraçado as garotas começaram a sorrir e em pouco tempo todas as garotas se olhavam e a única a beber foi Alice. Ela bebeu um copo duplo e retrucou logo em seguida:
                – Nunca roubei o namorado da minha amiga.
                Clarice gostou daquele momento impulsivo, mais ao mesmo tempo foi ruim porque as únicas a não beber foram a própria Alice e a Lara. Clarice não deixou que o momento passasse despercebido e voluntariamente provocou Jéssica dizendo algumas coisas nada convencionais:
                – Tá aí vadia. Tu roubou o meu Lucas.  
                – A vai a merda primeiro tu tá na minha casa e segundo foi ao mesmo tempo que você agarrou o John, se estivéssemos juntas naquele momento e Pedro não interrompesse eu não duvidava que você quisesse fazer sexo com os dois ao mesmo tempo.
                Clarice não respondeu, apenas puxou o cabelo da garota e começou a estapear tudo o que via pela frente, as duas garotas começaram a brigar feio e nenhuma das outras ousou interferir por um tempo, rostos arranhados roxões pelo corpo e boca sangrando foi o que resultou a briga.
                – Alice e Barba, vamos embora AGORA.
                As garotas se caminharam para a casa de Alice e lá resolveram apenas assistir tv e conversar. Na casa de Pedro os dois agora estavam na cama, um acariciava o outro e nesse momento John não repugnava nem sentia ódio de Pedro apenas um sentimento o invadia, pena.
                – Você não tá com raiva de mim não? – Pedro se sentia realmente vulnerável, passou  a mão direita pelo peito de John e aos poucos foi tocando os ferimentos causados por ele.
                – Não, você sempre foi assim e a culpa não é só sua. –sentindo o toque em um de seus machucados John resmungou e prosseguiu – Você tem que aprender a se controlar assim como me ensinou tantas vezes, lembra da nossa infância?
                – Sim lembro mais não gosto de voltar a esse tempo. Por que está sendo gentil comigo? Dando carinho? Você nunca gostou do que acontece com nós, você sempre me achou um doente, e sabe o que eu sou, porque você está fingindo gostar de mim agora? Logo depois de ter lhe feito isso – a mão de Pedro passou por outro ferimento e nesse momento John interrompeu e o menor a segurou.
                – Por que apesar de tudo você sempre me ajudou, com os motivos errados e modos nada normais. Se você insiste nessa chantagem eu não vou mais ficar nervoso ou com raiva, vou simplesmente deixar ver até onde você vai. Ambos sabemos que você é doente.
                – Não sou DOENTE, isso é apenas vingança. A culpa não era só minha e de minha irmã John, todos contribuíram, todos mataram Adam e todos tem que pagar, sofrer como nós sofremos. – Pedro pareceu recobrar a consciência e aquele momento de vulnerabilidade se dissipou. – Agora se cale e vamos continuar aqui, deitados um ao lado do outro.
                – Tudo bem – a raiva se fez novamente no coração de John e ele disse – Vai então me chupa ou sei lá faz aquilo que você gosta de fazer, me usa pro seu prazer  – As mãos de John foram até a cabeça do maior e pressionou com força a cabeça pelo seu peito.
                – Se você pediu. – a face de John ficou triste e o medo se apoderou novamente, repugnou o que havia por vir e enfim se calou.
                Pedro se movia enquanto acariciava o corpo de John e quando menos esperava a porta se abriu.
                – Que merda é essa?

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