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Vida Urbana : Capítulo 5


                   John já estava suado, seu corpo tremia e o prazer aos poucos ia dando lugar ao ressentimento. As roupas estavam espalhadas pelo chão do escritório e agora Pedro estava ali, sorrindo daquela forma doentia como sempre fizera. Aos poucos foi recolocando as roupas em seu corpo e com isso a sensação de raiva quase o entorpeceu.
                Pedro caminhava de um lado para o outro tranquilamente como se nada demais tivesse acontecido, pra ele tudo não passava de mais uma noite de serviço e prazer. Pegou as roupas espalhadas pelo chão e agora já estava novamente ao normal, procurando os relatórios, estes últimos fariam com que seu trabalho terminasse e finalmente poderia ir para casa. Caminhou lentamente até John e deu-lhe um beijo sereno, sem muita pressa. Ao perceber o toque o garoto menor sentiu mais uma vez a repulsão diante de si mesmo, já não aguentava mais fingir tudo aquilo e agora o que os unia eram apenas chantagens, antigas e novas.
                Entre alguns beijos e abraços o celular de Pedro tocou, ele achou estranho, já se passava das dez da noite e essa hora o plano de Clarice deveria estar em sua plenitude. Correu, passou por entre as cadeiras que ficavam ao redor da mesa do escritório e o visor do celular apontava claramente a chamada de sua irmã. Por alguns segundos cogitou não atender, deixa-la enfrentar as próprias aventuras e lidar com as próprias consequências, mas por algum intuito ou sensação sua única certeza foi atender a chamada:
                – Oi, o que fez de errado? Estou no meio do trabalho!
                – Bom... , não sei como dizer isso mais – hesitou em dizer por alguns segundos mais por fim disse – nosso tio está aqui. Vem pra cá o mais rápido possível e traga o serviço pra casa, pois ele vai querer dar alguma checada.  Ah! Ele continua lindo como sempre.
                – Credo, ele é nosso tio Cla. Pois bem estou chegando.
                John não fazia ideia do que acontecia, mas já estava vestido e querendo ir embora, os dois garotos não trocaram uma palavra sequer. Como Pedro já tinha seu próprio carro os dois garotos se dirigiram a garagem da empresa e de lá se despediram, o jovem motorista até quis oferecer uma carona mais parecia que John sabia de certa forma que as coisas ficariam realmente estranhas e se pôs a caminha para fora do prédio.
                Para Pedro o tempo não passou quase nada, o garoto com poucos minutos já estava entrando em casa. Levava consigo muitos relatórios e balanceamentos para terminar de fazer. O corredor da casa estava iluminado e o cheiro de Vodca estava mais do que presente, parecia estar impregnado nas paredes.
                Aos poucos quando chegou à sala de estar lá estava Clarice, arrumando toda a bagunça deixada pelo grupo e a incrível face de Bernardo lá, estática e esguia. Pedro não teve coragem de dizer nada até então o silencio estava inquebrável, era como se estivessem num santuário ainda imaculado.
                – Não sei o que fazer com vocês dois. O que vou dizer ao avô de vocês dois – soltou algumas gargalhadas e continuou a dizer – eu bato na porta da casa de vocês, encontro Clarice com os peitos para fora, realmente vocês não mudaram muito. Não vou querer ouvir nada mais.
                – Desculpa tio, eu estava dando uma social aqui em casa e acabamos brincando com alguns desafios. Isso não se repetirá.
                – Olha Bernardo eu não tenho culpa alguma do que aconteceu. Você está vendo. Estou chegando agora e trazendo ainda trabalho para casa.
                – Nossa! Relaxem, por um segundo achei que vocês acreditariam e realmente caíram como bobos. Só acho que vocês têm que ter mais cuidado inclusive você Clarice.  Acho que você deveria ter me convidado pra festa, eu ia gostar de ficar com uma de suas amigas, ou até com todas elas.
                Não era realmente o tipo de discurso dado por alguém que era responsável por dois adolescentes. Bernardo era jovem, não tão novo quanto os outros dois. Na verdade ele tinha seus vinte e sete anos. Era formado em administração e falava algumas línguas. Após a morte dos pais do casal de irmãos, ele foi designado para cuidar dos interesses da empresa e dos assuntos mais pessoais dos dois. Era um homem que gostava de festas e ao contrário era mais parecido com Pedro do que qualquer outro membro de sua família.
                Bernardo tinha o cabelo curto, era quase careca, mais mantinha o corpo em forma. Jogava futebol, vôlei e alguns outros esportes além de fazer academia desde seus 17 anos.
                – Hahah, já que era assim por que me forçou a mandar todos embora tio?
                – Primeiro. Clarice, não me chame de tio e segundo, eu tinha que parecer no mínimo responsável por vocês. – ele já havia largado aquela face incrédula e poderosa. Agora estava se esparramando pelo sofá e pedindo um pouco de vinho.
                – Bom tio, você quer ver os relatórios sobre a empresa?
                – Bom, mais tarde eu passo no seu quarto e te chamo só vou botar minhas coisas no quarto.
                – Aproveitando tio, acho que vou visitar a Alice. Quero dormir lá hoje e isso seria bom para anunciar a sua chegada, além de ter que fazer minhas tarefas hoje.
                – Tudo bem. Só não faça nada demais, não irrite o João e a Michele.
                Clarice não respondeu mais nada, subiu para o seu quarto e em questões de minutos já passava pela porta da frente de casa. De volta à sala de estar Bernardo já tirava sua roupa, estava apenas com shorts e alguns chinelos. Subiu novamente pelas escadas e bateu na porta do quarto de Pedro. Do outro lado da porta Pedro levantou seu corpo e abriu a porta do quarto.
                – Hey tio, bom venha vou lhe mostrar todos os papeis dos últimos meses, bom estou aqui não faz nem uma semana mais já consegui fazer metade do balanceamento dos dois últimos meses.
                – Bom isso é ótimo – ele disse enquanto fechava a porta – mais antes disso você não quer me dar às boas vindas não?
                – Bom e o que isso seria? – os dois estavam sorrindo, de uma forma ligeiramente maliciosa. Era obvio que os dois não eram apenas parecidos fisicamente.
                – Bom podemos começar com isso. – Bernardo empurrou Pedro para a cama e com alguns segundos já o beijava ferozmente. Era como já se conhecessem muito além do que uma relação de tio e sobrinho fornecia.
                Entre outros pequenos acontecimentos a semana transcorreu muito bem, cada vez mais John se via enraizado com os jogos de Pedro e cada vez este segundo se entregava ao tio. Clarice após a tentativa de juntar Alice e Talles conseguiu um bom êxito e por mais que ela fingisse não saber do que havia acontecido na casa continuava a sentir o plano transcorrer muito bem. Lucas aos poucos foi conhecendo novamente mais Clarice e John por mais que quisesse não conseguia ignorar.
                Na sexta-feira Talles no intervalo da ultima aula convidou a todos para uma nova festa. Não seria nada comparada a festa de Jéssica, era mais um pretexto pra fazer com que o grupo fosse pra sua casa.
                Nessa mesma tarde o Café estava vazio. Talles e Clarice estavam sentados em uma bancada, conversavam como se toda a cena do colégio tivesse sido armada.
                – Nossa achei que ninguém gostaria de ir a minha “festa”. Como você sabia que tudo daria tão certo.
                – É final de semana e bom, eu sei o que fazer. Sempre – Clarice suspirou por um tempo e encarou a xicara cheia de chocolate quente – Nós temos que definir o que fazer nessa festa. Você vai ter que beijar a Alice na minha frente. Jéssica precisa ficar com o Lucas nessa festa, não aguento mais ele atrás de mim. E John eu vou ficar com ele.
                – Nossa. O pessoal sempre disse que você era uma vadia e eu não quis acreditar. Que bom que estamos do mesmo lado.
                – Olha a boca comigo seu idiota. Ah! Esqueça aquela sua namoradinha agora você deve ficar permanentemente com Alice.
                – Ok.
                – Bom já estou saindo preciso ir para casa, hoje vou contratar uma empregada, não dá mais pra fingir ser a boazinha.
                Clarice saiu o mais rápido que possível do Café, caminhou por entre as ruas e logo já estava em casa. Esperou durante algum tempo e durante o resto da tarde e uma boa parte da noite mais enfim conseguiu alguma boa empregada.
                John nesse momento já estava na casa de Lucas. Era o ultimo trabalho do semestre e as coisas estavam começando a piorar, a relação entre os dois havia ficado estranhamente distantes um do outro.
                – Você vai à festa de Tales?
                – Não tenho certeza, só vou realmente se Clarice quiser. Não estou com muito humor para festas – Lucas dizia essas palavras como uma liberdade comum.
                – Bom eu devo ir – John sorriu de uma forma falsa e depois continuou – Não entendo como você fala da minha ex-namorada desse jeito. Simplesmente a roubou de mim.
                – Olha se você continuar me enchendo tanto assim é melhor ir embora.
                – Ok, mais antes eu preciso de lhe contar algumas coisas.
                – Diga? – Lucas estava cada vez mais expressando a forma irônica de afeto para John.
                – Estou me deitando com Pedro.
                – O quê? – Lucas vociferou, mudou de tom no mesmo momento. – Não entendo, por que está fazendo isso. Por acaso é gay?
                – Claro que não – John abaixou a cabeça, hesitou um pouco e alguns segundos depois terminou – Vou me vingar dele, tomar as gravações e o ameaçar com alguma coisa.
                – Como?
                – Vou precisar da sua ajuda. Ninguém pode saber o que está acontecendo.
                – E qual o interesse pra mim nessa história toda?
                – Simplesmente estaremos poupando Clarice de toda essa armação e enfim terminando com a possibilidade dela descobrir as falcatruas do irmão.
                – Ok, mas como vamos fazer isso?
                – Amanha na festa do Talles eu vou levar Pedro a algum quarto, você vai filmar tudo. Depois nós dois forjamos uma briga por causa da Clarice e após algum tempo eliminamos todos aos poucos. – John estava com uma expressão séria e decidida – Vamos expulsá-lo de uma vez.
                – Ok. Vou pensar e amanha de manhã eu te ligo.
                John saiu da casa de Lucas e dormiu o resto da noite como nunca havia dormido. Quando seus olhos se abriram era uma nova manhã, ensolarada, típico de um sábado de verão.  A tarde ocorreu tranquila e aos poucos o tempo foi passando. Já eram cinco da tarde quando Alice estava em seu quarto, Jéssica estava ao seu lado e conversavam piamente sobre os acontecimentos da ultima noite. Foram expulsas da casa de Clarice pelo Tio da mesma.
                – Nossa eu queria ter um tio assim. – confessou Jéssica.
                – Deixa de ser boba, você viu como ele nos tratou. Quase nos chutou da casa.
                – Realmente. Será que ele continuará na cidade por muito temo?
                – Não sei, mais pode ter a certeza que o Tio Bernardo deve ficar algum tempo, ele é guardião legal da empresa dos meninos e ainda mais agora que os dois estão sozinhos em casa. Ele vai passar um bom tempo lá.
                As duas garotas continuaram conversando e o tempo foi passando calmamente, aos poucos começaram a se arrumar para festa, cada uma pensava em qual pessoa ficaria na festa, ainda mais que não seria uma festa tão grande como a ultima. Enquanto a tarde já ia se esvaia aos poucos Pedro e Bernardo trabalhavam na empresa. Com o tio de Pedro na empresa as coisas ficaram mais rápidas, com pouco tempo já tinham isolado todas as decisões em aplicações e outros investimentos nos próximos quatro meses.
                – Pedro, você vai sair hoje?
                – Sim, tem uma festa na casa do Talles. Estamos nos reestabelecendo na cidade, certamente aos poucos eu terei todo o controle outra vez e vou me vingar de todos que me fizeram sair daqui. Eu gostava desse lugar e além de tudo se não fosse por todos os antigos acontecimentos agora meu pai estaria vivo. Vou esmagar o John da mesma forma como ele destruiu tudo que eu tinha eu o destruirei.
 mesma forma como Pedro sempre sorria. – A família de John pelo que eu saiba é bem rica e o Ricardo, bom nós estudamos na mesma escola e seu pai o conhecia muito bom, podemos fazer falir.
                – Como? – Pedro estava alegre como nunca havia ficado, era impressionante como havia surgido uma possibilidade de arrancar todo o dinheiro da família de John.
                – É só trazer a Ricardo pra empresa e jogá-lo em algum problema. Ninguém descobriria nada. É muito comum essas coisas acontecerem no mercado comercial-financeiro.
                – Sabe o que você merece? – Pedro não deixou que seu tio dissesse nada e respondeu piamente – Você me merece. – o garoto saiu de sua cadeira e sentou no colo do tio, jogando um beijo molhado e sensual.
                Clarice já estava pronta e esperava Lucas busca-la. Dessa vez ela preferiu vestir algo mais colorido, vermelho, porém mais colorido que o básico preto que sempre utilizava. Poucos minutos se passaram enquanto ela acabava de passar o batom Lucas já batia na porta. Ela desceu as escadas rapidamente abriu a porta e lançou um beijo caloroso. O casal entrou rapidamente no carro da família de Lucas e o jovem explicou onde o motorista o levaria.
                A cada de Talles era um pouco mais conservadora, os aspectos eram todos descendentes do final do século 20, tinha uma pitada de burguesia, a casa era esguia e com as simples cores: preto e branco. Talles caminhava de um lado para o outro, a casa estava vazia, como de costume seus pais sempre iam para a cidade vizinha e ele sempre arrumava alguma desculpa para ficar.
                Talles era um garoto que não se destacava tanto com o pequeno grupo, mais era conhecido pela maioria do colégio o que dava a ele algum prestigio. Talvez não participar do grupo problema da escola fosse à única coisa que faltava. Já estava arrumado e o DJ já tinha começado a tocar algumas musicas com alguns minutos aquela casa já estava fervilhando. Em pouco tempo parecia que todas as pessoas mais interessantes do colégio estavam lá, o único que ainda não havia chegado era Pedro.
                – Nossa a festa está bastante interessante.
                – Seria melhor se nós subíssemos e terminássemos a festa lá em cima Alice. – o sorriso malicioso revelou pela primeira vez que Talles não era tão inocente como todos julgavam.
                – Relaxe. Agora não é a hora, tenho que conversar com minha prima dançar um pouco, e a propósito. Puxe algum assunto com o Lucas sei que vocês são amigos.
                Talles não a indagou sobre o que ela dissera apenas caminhou para a direção em que o outro casal estava e em pouco tempo Alice e Clarice já dançavam pela pista. Clarice se movia de um modo bem sensual e as duas garotas realmente estavam atraindo todas as atenções. Jéssica de um súbito instante apareceu ao lado das duas e elas começaram a dançar como muito tempo não faziam. O que estava tocando era Get Loud, uma musica que estava já na boca do povo e o que diminuiu a surpresa para o resto da turma.
                As garotas dançavam enquanto Lucas e Talles bebiam. Alguns instantes depois John também já estava reunido com os outros garotos, beberam vodca, tequila entre outros e estavam pra lá de altos. As meninas já tinham se cansado de ficar ali e procuraram algo pra beber. No mesmo instante em que Jéssica foi cumprimentar os garotos Pedro apareceu. Agora sim estavam todos ali. O olhar de Lucas e John se chocaram e de imediato sabiam o que iriam fazer.
                John observou tudo aquilo e chamou Alice pra dançar. A todo o momento Pedro o olhava, parecia uma obsessão e realmente não era nada normal aquele sentimento que o garoto maior sentia por John. Assim que a musica acabou John se dirigiu ao banheiro e Pedro sem a menor sutilidade o seguiu. Ele sabia que hoje os dois terminariam na cama. Lucas observou tudo e aos poucos escapou das mãos de Clarice.
                Os dois jovens estavam quase no quarto de Talles, beijos, abraços e outras caricias eram feitas e Lucas encarava tudo com um misto de desprezo e felicidade. Quando John e Pedro já estavam na cama à porta havia ficado meio aberta e foi nesse momento que Lucas pegou o celular, começou a filmar tudo, sentindo repulsão e medo que alguém chegasse, não demorou muito tempo para ter as imagens que precisava e automaticamente se dirigiu de volta ao salão principal.
                Agora Pedro e John já estavam novamente vestidos e voltaram para festa, o que não impediu que o restante do grupo perguntasse onde os dois haviam se metido. Clarice estava tão bêbada que ao se mexer desiquilibrou e caiu, já passava um pouco mal assim como Jéssica, como esperado John a ergueu do chão e a levou para o banheiro assim como Lucas fez com Clarice.
                No caminho John se perguntava se contar e mostrar tudo aquilo para Lucas de alguma forma afetaria a relação de amizade entre os dois, porém no fim das contas não teve muito tempo para refletir, Clarice havia virado de costas caído sobre seu corpo e lançado um beijo estranhamente surpreendente, os dois se beijaram e não conseguiram parar. Os olhos de Lucas estavam marejados e por fim a única ação do outro jovem foi selar os lábios no de Jéssica. Estava tudo correndo bem para Clarice todas as coisas que queria fazer haviam dado certo. O pequeno grupo já não se movia se atracavam como se quisessem iniciar uma perfeita orgia, com todos aqueles movimentos e a música alta não se deram conta quando Pedro apareceu.
                – O que é isso tudo John?
                O menor não respondeu, sorriu e continuou a beijar a garota.


               


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