Os livros estavam ali, do mesmo jeito que o rapaz tinha deixado há alguns dias, o cheiro da casa era antigo, deixava a garota atordoada por fazê-la lembrar de sua infância.
Os moveis eram de madeira, daquelas que certamente não se encontram mais. A garota olhava para a mesa e os livros, os tais livros que seu amado sempre lia. Ela não sentia saudades de vê-lo lendo, apenas tinha saudades de vê-lo ali próximo dela.
Antes o garoto entrava na casa, fazia o maior alvoroço, procurava a sua bela garota pálida, na cozinha abraçava a mesma sem hesitar, sem pensar em motivo algum, apenas a abraçava.
Ele estava naquela casa todos os dias, usava aquele calção velho, a camisa regata e os chinelos desgastados de sempre. Quando a garota o olhava ele simplesmente exalava uma energia sedutora que em menos de segundos fazia com que eles selassem seus lábios.
Esperava o garoto todos os dias, ela o amava. Ele tinha seus bons dezenove anos de vida, era um rapaz inocente, aventureiro como nunca tinha visto antes. Era simples, quando ele estava próximo dela só se ouvia aquela doce frase:
– Olá minha doce garota.
Era estranha a forma com que sua boca gesticulava as palavras, ela ria, parecia um caso de retardamento mental, mas não era, era só o amor perseguindo dois jovens em um tempo antigo.
Caindo em si a garota voltava ao realismo e via que agora naquela sala fria ela estava somente acompanhada dos livros velhos e do maldito cheiro milenar do lugar:
– Por que você não volta para mim? – ela repetia esta fala três, quatro vezes com tanto desespero que houve uma única e fraca resposta:
– Eu só existo dentro de você – a voz ia ficando fraca até sumir comendo por total a ultima silaba.
Ela abre os olhos com dificuldade e percebe aos poucos que ainda está na cama e que ele está ali, do seu lado e aparentemente ele nunca saiu de lá.
Enfim ela olhou para o teto e disse vagarosamente num tom preguiçoso de quem acorda as quatro da manha:
– Sonhando com coisas estranhas, estou me tornando uma velha louca.