... I ... need .... you



                     Era fim de tarde e os raios solares estavam ficando fracos. O vento suave agitava as folhas das árvores e soprava levemente meu rosto. Meus olhos estavam seguindo as nuvens, procurando algum sentido naqueles diversos formatos. E lá estava eu deitado como um garoto perfeito, um homem voltando a ser criança.
                     Quando cerrava meus olhos , os pensamentos logo tomavam outras formas e não se dispersavam tão fáceis quanto aquelas nuvens. Minha mente parecia não ter fim, os pensamentos mergulhavam vez em vez mais a fundo e no fim um vazio. Estranhamente era aí que  meus  olhos se abriam, minha mente parava e eu voltava a seguir as pequenas nuvens.
                  Elvis e naqueles cigarretes antigos.
  Aquele frio que agora fazia me lembrava coisas que talvez eu nunca vivi e sensações que nunca conheci. Eu parecia um garoto perdido em sonhos. Sonhos por sonhos e nenhuma realidade, de certa forma era isso que me movia. Pensando em
                   O sentimento dos anos passados vinham a tona de uma forma enlouquecedora. O sexo, talvez até mesmo o suícidio eram coisas que se passavam em minha mente. Por vezes disse a mim mesmo que estava louco, mas na verdade não queria nada menos que uma vida regada ao rock & roll.
                   Meu corpo agora se movia, estava deixando outra vez aquela cama universal e pouco a pouco  o cheiro de grama ia sumindo  e o cheiro da noite agora me invadia por completo. Caminhava de braços para o o alto e sentia  o peso da cidade em minhas costas.  O barulho feito dos carros passando pelos viadutos e os sons distintos vindos de todos os outros lugares.
                  Talvez pudesse nesse momento sentir Jesus em mim ou ao mesmo tempo algo contrário como o vazio, a solidão. Mas no fim das contas eu só queria uma vida regada ao rock & roll.
                  O meio-fio era como uma passarela e agora eu desfilava por ela, com aquela calça jeans rasgada e uma blusa de lã velha.  Os prédios estavam passando seus sentimentos, contando as antigas histórias, e estas são histórias que apenas as pedras e as raízes se lembram.
                   As garotas de saia justa, cabelo escorrido e topper paradas nas esquinas com sorrisos falsos, com uma esperança falsamente perdida. Elas me contavam tudo, elas diziam com aqueles olhos, frios e perdidos.  E ainda me faziam lembrar dela, minha garota ou minha mulher , não posso ao certo dizer o que ela é.
                    Agora meu corpo já não consegue se mexer, os movimentos estavam travados e ela estava em minha mente, perambulando cada canto e remexendo cada gaveta de vulnerabilidade do meu ser. Mas eu não podia deixar, deveria ser aquele Jony Cash.
                I need you, I don't need you
I need you, I don't need you
And all of that jiving around”
                   Eu sou o homem dos hotéis, dos prédios, das esquinas e viadutos. O unico que escuta a cidade no calar da noite. Eu a escuto e pra ela eu conto tudo mas não posso chegar ao fim, não posso dizer o que acontece no final porque ela está aqui, rondando minha mente.
                   Meu amor, minha dependência.
                   Para quem esta lendo peço que tomem cuidado, não citem nada, não sussurrem nada, ela está por aí, ela está andando de um lado para o outro fazendo com que eu e você percamos o sentido de tudo. Eu já perdi o sentido de tudo.
                   Desembaralhe minhas palavras :
                   – Eu escuto a cidade, a outra me persegue. Mas não sei quem sou eu e além do mais eu só queria uma vida regada ao rock & roll.
                


Nós...


                Nossos olhos brilhavam e a luz da lua cercava toda a cidade, estavámos sorrindo feito crianças em um dia ensolarado. Procurávamos liberdade em cada canto e em cada passo. Pareciámos tão perdidos quanto aquelas crianças que outrora fomos. Mas agora nós caminhávamos sorrindo  e dizendo besteiras, nos sentindo como verdadeiramente deveriámos nos sentir a todo tempo.
                Talvez pudéssemos ter feito isso alguma vez antes e tudo pudesse ter sido mudado antes, porém era certo que esta era a melhor hora, o momento perfeito para que pudéssemos largar os pedaços e parar de consertar os erros. Agora sentíamos o que precisávamos sentir e erámos o que realmente somos.
                Haviámos parado naquela esquina e o vento ligeiramente batia em nossas faces como a mão de uma mãe acarinhava o filho. Agora estávamos nos tornando os filhos da noite e a nossa  verdadeira comunhão estava prestes a acontecer. A sensação de medo simplesmente sumira, aquela morte dos próprios sentimentos agora dava lugar a uma explosão de coisas que nem mesmo algum papel pode explicar.
                Nos sentimos sexys, livres, verdadeiros e por uma  vez vulneráveis à nós mesmos e não aos outros. Ali completamos um ao outro e lógico os comentários poderão vir, as coisas poderiam ser abafadas mas o sentimento latente que se despertou ali certamente continuará pulsando.
                Somos aqueles estranhos descendo e subindo as ruas, bebendo, enchendo a cara mesmo e sendo felizes, não nos preocupando com o que pode ou não acontecer e é claro que desde já defendo: Não somos mais aqueles lobos solitários e sim uma boa alcateia deixando os pedaços de lado e construindo um novo futuro e uma nova vida.
                Somos o novo, como skins, como qualquer bom adolescente. Estamos a flor da pele e a mãe noite nos chama a todo tempo.

X.o.X.o