Criação



        


                O processo criativo é trabalhoso, ele embola e deserola a mente,  é preciso que você se conecte com a sua alma e literalmente crie o personagem. Quando se constrói um personagem sua alma está ali presa a do autor, ele tem no mínimo alguma coisa com a personalidade de quem o faz. Mesmo que essa relação entre autor e personagem não se dê diretamente até mesmo porque o processo criativo não é puramente real é um trabalho da manifestação pura do seu inconsciente sobre o consciente.
                Se o que você cria é triste você tem que saber o que é a tristeza e se descreve algo ao certo e porque o conhece ou finge que conhece já que não podemos ter certeza absoluta nenhuma de nada que esteja fora de nossas mentes. Meus personagens flutuam numa mendicância estranho é meio dubitável, pode ser algo objetivo ou subjetivo demais.
                No fim das contas é necessário que se perceba que só se cria quando você consegue atingir a sua alma, a profundidade e o conhecimento de si mesmo.
               

Inocência


                Talvez  eu ainda queira correr como um garoto qualquer,
                sorrir e ser jovem enquanto ainda posso
                ver os pés sujos de poeira e os joelhos  machucados
               
   
                Talvez eu ainda precise de um pouco de inocência
                aquela mesma inocência que perdi,
                de forma rápida,
                como aqueles muros que facilmente ultrapassava.

                Talvez eu ainda queira estar nos braços de minha mãe,
                rir das histórias meigas e tradicionais.
                Não me preocupar em ser alguém ou defender algo.

                E poder descansar,
                não precisar guerrear  nessa selva,
                nessa terrível selva de cavalos motorizados
                Torres demoníacas.

                Mas no fim das contas só há uma certeza,
                ter aquele abraço de minha vó,
                as comidas maravilhosas ,
                o cheiro da grama molhada no fim da noite
                e  o poder de ser livre.
               
                Talvez eu só queira ter você  de volta.
                Isso mesmo!
                Vem me ver hoje ou amanha?
                Sim ! Claro que sinto sua falta,
                Ponha um sorriso outra vez em meus lábios
                Ah! Como sinto sua falta minha querida

                Inocência

Chuva



                A chuva com o seu tom tranquilo tateava o chão da varanda e o garoto apenas observava pingo por pingo. Aquela umidade repentina enchia os peitos do rapaz e ele apenas fechava os olhos sentindo a vastidão do mundo. Estava sozinho, assustado com todas as coisas que o rodeavam. No fundo da sala saía um som calmo, uma batida inconfundível, era Riders on the Storm.
                Seus pés se moviam de forma inconstante. O espelho da sala o refletia e ali ele via a imagem de seu corpo indo e vindo. Estava vestindo um short jeans velho, e sem camisa mesmo naquele frio matinal.  Seu cabelo estava desgrenhado, tinha sua própria expressão assim como seu corpo. O jovem dançava enquanto a chuva caía e sentia cada vez mais o tom de liberdade o possuir.
                Os problemas haviam o deixado dormir bem e agora só o vago pensamento em um futuro o perseguia. Aquela boca seca e calada fez com que ele deslizasse para cozinha e voltasse com uma taça de vinho. Ainda sim estava andando de um lado para o outro rodopiando como um garoto-homem.
                No fim das contas o sentimento de estar só não era tão ruim para ele, ali ele tinha contato consigo mesmo e podia experimentar a forma de ser adorável e respeitoso assim como libertino e vulgar. Agora estava explorando o contato com ele mesmo, sem a necessidade de ninguém. E a chuva…, agora caía mais rápida fazendo com que o peito do garoto se enchesse mais e mais.
                Seu corpo estava em comunhão, uma alma ligada à natureza de certa forma. As horas passavam e ele ainda estava lá, sentindo o poder de estar apenas sozinho e entendendo a forma como desfilava, dançava, gritava e absorvendo seu próprio silêncio. Ele estava só e suas pernas tremiam conforme balançava.
                O vento estava balançando-o por conta própria, suas mãos e braços estavam erguidos e os rodopios sucessivos o faziam sentir como se fosse apenas um corpo elétrico. Sua mente estava vazia, a dor ou desespero já havia o deixado. Ali via o quanto era especial, o quanto era comum ao incomum, não era Jone, Jime, Paulo, Joe ou Alex, era apenas o garoto se envolvendo mais e mais com seu próprio intimo, talvez ele fosse você ou até mesmo eu.
                Estava numa ligação frenética e seu corpo se movia expressivo aos últimos acordes da música. Aos poucos a chuva havia diminuído e agora o ar que o preenchia já havia sumido. Suas pernas bambearam e com um estouro colou-se ao chão. A porta abriu, eles já estavam entrando, a chuva acabara e a ultima coisa cortar aquela ligação foi um sussurro em sua mente.
                “Riders on the Storm” …
                – Filho venha cá! Pegue as sacolas no carro.

... I ... need .... you



                     Era fim de tarde e os raios solares estavam ficando fracos. O vento suave agitava as folhas das árvores e soprava levemente meu rosto. Meus olhos estavam seguindo as nuvens, procurando algum sentido naqueles diversos formatos. E lá estava eu deitado como um garoto perfeito, um homem voltando a ser criança.
                     Quando cerrava meus olhos , os pensamentos logo tomavam outras formas e não se dispersavam tão fáceis quanto aquelas nuvens. Minha mente parecia não ter fim, os pensamentos mergulhavam vez em vez mais a fundo e no fim um vazio. Estranhamente era aí que  meus  olhos se abriam, minha mente parava e eu voltava a seguir as pequenas nuvens.
                  Elvis e naqueles cigarretes antigos.
  Aquele frio que agora fazia me lembrava coisas que talvez eu nunca vivi e sensações que nunca conheci. Eu parecia um garoto perdido em sonhos. Sonhos por sonhos e nenhuma realidade, de certa forma era isso que me movia. Pensando em
                   O sentimento dos anos passados vinham a tona de uma forma enlouquecedora. O sexo, talvez até mesmo o suícidio eram coisas que se passavam em minha mente. Por vezes disse a mim mesmo que estava louco, mas na verdade não queria nada menos que uma vida regada ao rock & roll.
                   Meu corpo agora se movia, estava deixando outra vez aquela cama universal e pouco a pouco  o cheiro de grama ia sumindo  e o cheiro da noite agora me invadia por completo. Caminhava de braços para o o alto e sentia  o peso da cidade em minhas costas.  O barulho feito dos carros passando pelos viadutos e os sons distintos vindos de todos os outros lugares.
                  Talvez pudesse nesse momento sentir Jesus em mim ou ao mesmo tempo algo contrário como o vazio, a solidão. Mas no fim das contas eu só queria uma vida regada ao rock & roll.
                  O meio-fio era como uma passarela e agora eu desfilava por ela, com aquela calça jeans rasgada e uma blusa de lã velha.  Os prédios estavam passando seus sentimentos, contando as antigas histórias, e estas são histórias que apenas as pedras e as raízes se lembram.
                   As garotas de saia justa, cabelo escorrido e topper paradas nas esquinas com sorrisos falsos, com uma esperança falsamente perdida. Elas me contavam tudo, elas diziam com aqueles olhos, frios e perdidos.  E ainda me faziam lembrar dela, minha garota ou minha mulher , não posso ao certo dizer o que ela é.
                    Agora meu corpo já não consegue se mexer, os movimentos estavam travados e ela estava em minha mente, perambulando cada canto e remexendo cada gaveta de vulnerabilidade do meu ser. Mas eu não podia deixar, deveria ser aquele Jony Cash.
                I need you, I don't need you
I need you, I don't need you
And all of that jiving around”
                   Eu sou o homem dos hotéis, dos prédios, das esquinas e viadutos. O unico que escuta a cidade no calar da noite. Eu a escuto e pra ela eu conto tudo mas não posso chegar ao fim, não posso dizer o que acontece no final porque ela está aqui, rondando minha mente.
                   Meu amor, minha dependência.
                   Para quem esta lendo peço que tomem cuidado, não citem nada, não sussurrem nada, ela está por aí, ela está andando de um lado para o outro fazendo com que eu e você percamos o sentido de tudo. Eu já perdi o sentido de tudo.
                   Desembaralhe minhas palavras :
                   – Eu escuto a cidade, a outra me persegue. Mas não sei quem sou eu e além do mais eu só queria uma vida regada ao rock & roll.
                


Nós...


                Nossos olhos brilhavam e a luz da lua cercava toda a cidade, estavámos sorrindo feito crianças em um dia ensolarado. Procurávamos liberdade em cada canto e em cada passo. Pareciámos tão perdidos quanto aquelas crianças que outrora fomos. Mas agora nós caminhávamos sorrindo  e dizendo besteiras, nos sentindo como verdadeiramente deveriámos nos sentir a todo tempo.
                Talvez pudéssemos ter feito isso alguma vez antes e tudo pudesse ter sido mudado antes, porém era certo que esta era a melhor hora, o momento perfeito para que pudéssemos largar os pedaços e parar de consertar os erros. Agora sentíamos o que precisávamos sentir e erámos o que realmente somos.
                Haviámos parado naquela esquina e o vento ligeiramente batia em nossas faces como a mão de uma mãe acarinhava o filho. Agora estávamos nos tornando os filhos da noite e a nossa  verdadeira comunhão estava prestes a acontecer. A sensação de medo simplesmente sumira, aquela morte dos próprios sentimentos agora dava lugar a uma explosão de coisas que nem mesmo algum papel pode explicar.
                Nos sentimos sexys, livres, verdadeiros e por uma  vez vulneráveis à nós mesmos e não aos outros. Ali completamos um ao outro e lógico os comentários poderão vir, as coisas poderiam ser abafadas mas o sentimento latente que se despertou ali certamente continuará pulsando.
                Somos aqueles estranhos descendo e subindo as ruas, bebendo, enchendo a cara mesmo e sendo felizes, não nos preocupando com o que pode ou não acontecer e é claro que desde já defendo: Não somos mais aqueles lobos solitários e sim uma boa alcateia deixando os pedaços de lado e construindo um novo futuro e uma nova vida.
                Somos o novo, como skins, como qualquer bom adolescente. Estamos a flor da pele e a mãe noite nos chama a todo tempo.

X.o.X.o

Eu preciso ...

Eu te conheci como nenhum outro alguém pudesse lhe conhecer, andei pelas estradas a fora esperando que tudo ficasse bem, que não nos distanciássemos ou que o lindo sentimento de amor continuasse a ser amor e não se tornasse intangível ao ponto de mutar para o ódio. Meus olhos estão fingindo que observam as coisas, fingem que seguem pessoas, mas na verdade estão parados, estagnados em alguma outra realidade procurando você. Sim, eu preciso de você. Não, não preciso. A minha mente vive em constante brincadeira comigo mesmo, meu eu inocente permanece buscando você, esse amor pelo qual tanto lutei ou que ainda espero interminavelmente que chegue. Mas e o outro eu? E aquele que encara os fatos reais e percebe que nada aconteceu. Nada nunca acontece. Este outro eu parece já se ter integrado ao sexo, aos corpos e ao frio da noite. Tudo soa como se eu estivesse vivendo dias chuvosos, frios e estagnados sem nenhuma cor. Talvez como em outros textos e algumas músicas que venho ouvindo este fenômeno seja explicado como o inverno de minha própria vida. Não quero me tornar o garoto do quinto andar, não quero ver as pessoas pararem de me observar, elas precisam de mim e eu delas. Eu amo pessoas de uma forma tão verdadeira quanto jamais pude me expressar, mas todas elas não se comparam a você. Tentei estar ao seu lado, desde o inicio fiz com que o melhor de você aparecesse mesmo que de uma forma duvidável. Agora eu apenas dirijo como um menininho bobo, olho as estrelas e lembro-me do brilho dos seus olhos e ando pela a estrada sentindo teus braços envoltos aos meus. Em meio a tudo isso eu me lembro do que você disse: – O meu corpo é uma prisão e a única forma de escapar é usando a minha mente, ela é a única chave que restou. Quando você foi embora e me deixou, esqueceu que você era a minha chave e desde então estou preso a mim mesmo, aos meus desejos duvidáveis sobre as pessoas e a essa sociopatia doentia, confesso que tenho medo, confesso que tudo aquilo que desejo é difícil de fazer, porém fácil. Tudo apenas contraditório foi assim que eu aprendi, assim que você me ensinou. Eu me tornei tão dependente a você, e ainda sinto teus sóbrios beijos e teus abraços delicados. Tu eras um verdadeiro demônio, mas eu amo você, eu preciso de você. E sim, é solidão, mas não desespero, sempre fui assim. Eu vejo você a minha frente mais não posso nem vou dar ao luxo de lhe tocar agora sou um monstro, minha personalidade se transformou ao ponto de eu mesmo entender que o que restou foi uma inocência lúdica, o amor aos corpos como uma variação de mim mesmo e a mãe besta que me domina por completo.

Casa de meu pai.


                Durante muito tempo vaguei como uma criança perdida.  Sonhando com outros mundos, com o amor e até mesmo com uma vida melhor. Fui de cidade em cidade percorrendo aquelas lindas estradas.
                Ah! Estradas, limpas e consistentes em meio aquele ambiente seco. Eu meu carro, a estrada e a linda paisagem. O vento passando por meu rosto como se eu estivesse realmente livre. O sol do meio-dia, a vegetação rasteira e aquela cor amarelada da terra enfrentando o azul do céu com tamanha coragem.
                Andar por ali ou aqui, passando por bares e postos de gasolina sendo um lobo solitário. Uma grade de cerveja e uma mulher eram os únicos e constantes desejos de minha alma. Transparecia como se o mundo terminasse ali, eu e meu carro contra todo o resto.
                Naqueles finais temíveis de noite lembrava de meus pais. Uma mulher simples que me criou, demonstrando de vez em vez que eu estava na casa de meu pai, sendo o filho homem, mostrando o quanto o mundo era temível a mim.
                Ainda na estrada eu encontrava naquelas lojinhas, às dos postos, meninas frágeis e inocentes. Elas vinham, corriam atrás de mim como um gato esguio. Sim! Elas se sentiam muitas vezes como verdadeiras mulheres. Umas pela primeira e outras pela ultima vez.
                O sentimento de realização era inevitável, elas ali deitadas naqueles quartos de hotel enquanto eu me envergava para o lado de fora das pequenas janelinhas, observando como um louco à noite. Fixando os olhos na lua, eu uivava como um animal e por fim lembrava de minha casa. Então meus olhos cerravam marejados vendo outra vez o chão.
                 Mesmo com elas eu entrava sozinho, só lá me sentia como o verdadeiro homem que sou. E por vezes eu deixava as garotinhas deitadas na cama, pegava as minhas chaves e dirigia madrugada a fora para ouvir aquele canto. Estar com todos outra vez e ser selvagem da forma que sempre fui. Com minha mãe colocando a comida na mesa e escorando nos pilares da casa, esperando por todos e cantando sutilmente:
                – La casa de mi Padre

Alma


                Em cima daquelas bicicletas nos rodamos a cidade, vemos cada rosto e sentimos cada expressão das ruas e da cidade. Somos livres, juntos somos as asas de uma águia. E lá estamos, observando as coisas, as pessoas, tudo. Nossos olhos acompanham os passos rápidos dessas e daquelas crianças, nervosas e apreensivas sobre o futuro ou até mesmo sobre o doce que não pôde comprar.
                Ainda caminhamos pelas ruas naquelas tardes um tanto quentes e um pouco úmidas, com o sol caindo sobre as montanhas e o cheiro da chuva se aproximando lentamente. Curtindo a vida como dois lobos, loucos lobos solitários. Não estamos tristes nem tão pouco solitários por falta de opção e ainda sim nem tentando nos vangloriar sobre nossos próprios sentimentos e próprias conquistas individuais.
                Nós criamos, dançamos e cantamos. Ambos seguimos colados à aquela outra realidade, não tão dura e perversa como a no mundo em que literalmente vivemos, mas nós dançamos juntos sob o luar, circulando pelas pequenas ruas, as ruazinhas escuras com poucos pontos de luz.
                Sem ter medo nós seguimos com as bicicletas, andando de um lado para o outro em plena escuridão, aliás em plena luz inebriante do olhar. E com o sentimento de  puro aproveitamento nós simplesmente sentimos o vento tocar no rosto, nossas mãos se unirem nossos corpos estarem ali, juntos e nossa alma se tornar uma.
                Enfim dançamos ao luar e esquecemos aqueles demônios estranhos, o preconceito, a realidade a incrível sociedade hipócrita e o medo de viver. Ali a realidade se torna unicamente palpável e nossos sentimentos estão em total êxtase. É  a primeira vez que estamos dessa forma, viajando em nossa própria realidade, sem delírios, sem fugas desesperadas. Neste momento estamos vivendo com os olhos abertos e os corações entregues a todo sentimento bom.
                Estamos cantando e vivendo a vida, como seres felizes não tão perfeitos mas sim únicos em nossas próprias vontades, características e o mais importante estamos vivendo como nossas almas dizem para viver. Este é o alcance da alma, a força com que ela transforma seu mundo, é o canto da vida e o sentimento de pura conquista do próprio coração.

Sem rumo !


Nós dançávamos na beira da estrada, perdidos como se nunca tivéssemos algo a seguir, uma alma à responder.  De mãos dadas, aquele asfalto parecia sem cor, andávamos unidos. Ela com seu all star um pouco sujo e eu com aquele tênis de correr.
Sua face estava completamente pesada, os cabelos caiam do rosto ao peito e a boca um pouco avermelhada, aquele vermelho natural como se houvesse um parentesco com a pequena branca de neve.  Olhos pesados como se não houvesse dormido há um bom tempo.
A coca cola em nossas mãos e as músicas em nossas bocas:
– Eu canto a mim mesmo, eu canto ao corpo elétrico e canto por todas as coisas que me faz bem. – meus lábios tremiam enquanto olhava para o céu e recitava.
– Você é engraçado começa em um sentido, divaga ao extremo e depois some, se perde nos caminhos que você mesmo criou.
Ela rodopiava e eu observava em constante admiração, parecia um cisne planando no espelho do lago, uma bailarina dançando ” O Lago do Cisnes”. Meu corpo se movia conforme aqueles sorrisos, às feições de acanhamento, um tanto meiga e um tanto perversa.
– Vem vamos pedir a carona? A coca já ficou quente e nós estamos aqui, andando como duas crianças indefesas.
– Tudo bem, mas cuidado. Como minha mãe dizia aqueles antigos e medonhos homens do saco agora caminhavam e não caminhavam sozinhos e solitários com suas próprias pernas. Agora andam nos cavalos motorizados  colocando garotinhas na garupa e prometendo as mesmas meio mundo de felicidade.
– Deixe de ser bobo, sou uma princesa-demônio. Roubo os corações – enquanto dizia ela se movia me fazendo perder o folego e fazendo com que eu sentisse o medo em minhas próprias mãos.
– Tudo bem senhorita Perdição – sorri um tanto sem graça – Tomemos a coca e peçamos a linda carona –  meus olhos voltaram a encontrar com os dela e  simplesmente as palavras saíram  – Carpe Dien para nós e para os outros.
– Então vamos! – ela virou o corpo, beijou-me no rosto como se beija uma criança e roubou a coca de minhas mãos – Carpe Dien, pequena criança. Venha, vamos para  aquele trevo.
– Sim – meu pensamento agora se voltava para o oculto. De pegar carona com estranhos homens do saco à locais costumeiros a rituais místicos.
E ali o tempo passou. Por grande parte nós não dissemos nada, mantínhamos aquela constante brincadeira infantil de namoro com os cílios. Teu belo rosto agora estava colado ao meu, não estávamos pensando mais na carona e nossos corações se uniram. Selamos nossos lábios e por fim entendi este, era o nosso vídeo game.
O carro  passou, parou e lá estava o nosso singular homem do saco, vestido como um verdadeiro anjos dos veículos. Barbas longas e ruivas, compridas e grossas. Olhos negros e perdidos como a noite. Corpo branco, um doce de leite.
– Uma carona para jovens perdidos?
– Talvez sim, senhorita Dark.
– Interessante, mas essas roupas não dizem nada.
– Ok! – ele riu como se o que ela dissesse fosse uma piada única. – Entre e você garoto sem língua sente aqui.
– Sim, senhor. – as palavras soaram como se ele fosse um comandante.
– Vamos ligar a música barba vermelha.
– Sim, mas meu nome é Peter e não Barba Vermelha.
– Tudo bem – ela o imitou no jeito de falar e soltou pausadamente  – Peter o Barba Vermelha.
Os dois riram e não tive outra opção a não concordar.
– Qual o seu lema garota perversa?
– Carpe Dien.
– E você garoto, qual teu lema?
Meu corpo e alma se encheram de coragem e de um sentimento excitante, olhei para minha Branca e disse:
– Carpe Dien, Senhor.
– E você Barba Vermelha ?  – Pela primeira vez eu e ela dizíamos as palavras juntos, em forma única.
– Eu – uma gargalhada se fez em meio a pausa – Eu apenas dirijo.

Anjos da Noite



Ainda perdido, andava pelas ruas escuras durante uma madrugada errante. Meu corpo se erguia como um monstro se ergue diante ao fim da noite, e nós corríamos, brincávamos como pequenos demônios brincavam ao aproveitar a noite.
                Lá estava você ao meu lado, expulsando suas asas negras e dançando pelas ruas sentindo a chuva descer por entre o corpo, perversão, amor e sexo. Todas as coisas estavam chegando em nossas almas. Ainda andávamos como os verdadeiros guardiões da noite.
                Perdidos nos encontros das esquinas, nas portas dos bares e nas pistas de dança daquelas boates antigas, erámos loucos e todos os nossos verões eram ali em meio as bebidas, em meio ao rock em meio ao suor, enfim a nossa perversão. Única e incontável perversão.
                Andávamos como duas crianças comportadas mais com a mente possuída por monstros de outras realidades, erámos ainda pequenos, criancinhas com os olhos vermelhos e com as almas cheias de um buraco escuro, tão escuro que nós tínhamos uma única e pequena luz. Sim, restava luz em algum lugar de nós mais isso não nos atraia, ainda gostávamos da forma nua e crua na qual nossas mentes trabalhavam.
                As luzes dos postes ainda continuavam acesas e ao passo em que caminhávamos pouco apouco elas apagavam, como se toda a vida ali acabasse ,como se nós levássemos tudo para o fundo, tudo para aquele buraco negro, fundo.
                E nossas asas abriram novamente, a rua ficou totalmente contaminada por nossa escuridão, os gritos ressoaram durante quarteirões e ali ficamos extasiados aquela música vinha da boate e nossos corpos se encontravam dançando pelo ar. Todos nos observavam, monstros dançando, monstros com asas nem tão monstros e sim anjos.
                Os anjos da escuridão, e o canto era alto, os nossos corpos agora se encontravam e chocavam finalmente como esculturas esculpidas a mármore. E o céu agora ficava escuro com uma única ponta iluminada, um vermelho sangue no meio dos céus e dois pontos escuros vistosos movimentando em constante rapidez.
                Toda a terra estava calada e só nós nos movíamos, apenas nós dois conseguíamos ouvir o canto e sentir a luz por entre toda a escuridão, nós erámos a luz da escuridão em sua própria e majestosa escuridão, o ponto mais escuro, o ponto mais claro.
                Inegavelmente era essa a nossa forma de ser, de sentir e de ver as coisas.  Agora erámos tudo, todos. Havíamos nos tornado tudo que queríamos e podíamos ser. Não erámos simples anjos nem grossos monstros. Erámos apenas os Anjos da noite.

Livres


                
                Lá estava você com aquela camiseta do Mickey, surrada junto ao jeans de sempre. Andando de um lado para o outro como se o mundo estivesse pronto para desabar e caminhando como um garotinho de seis anos de idade. Seu sorriso era eminente e sua seriedade quase zero. Estávamos pela primeira vez realmente juntos.
                A casa parecia não ter mudado, as paredes com aquela cor de pêssego, os moveis escuros como a escuridão do céu e o chão branco, limpo, frio e espelhado. Meu corpo não aguentou, ao ver você ali ele desapontou minha própria mente e seguiu por entre o corredor da sala.
                – Estamos juntos não é?
                – Sim – seu sorriso desta vez aumentou e aos poucos seus braços me envolviam. – Parece que estive anos sem você, parece que estávamos um século sem nos ver.
                – Estranho, nós nos conhecemos a apenas três semanas. – o cheiro dele era calmo, mostrava um caminho de perdição, o paraíso ou o fim.
                – O amor não mede tempo garoto.
                – Outra vez me chamando assim. – eu comecei a rir e me afastei um pouco – Sou tão homem como você, posso lhe proteger da mesma forma. – minha face havia ficado séria, tensionada e por fim disse. – Não acredito que esteja realmente me amando.
                Aquela camiseta dobrou e ele foi ao chão vagarosamente, recostou seu corpo por entre a parede e o chão. Fechou os olhos por alguns momentos e simplesmente começou a dizer:
                – Eu não minto, não preciso dizer coisas alheias para te conquistar. Você é meu e apenas isso.
                O choque passou por meu corpo e ali mesmo eu deitei em seus braços. Dissemos coisas sobre o amor sobre o perdão, futuro. Nós amamos ali, sentimos pele por pele, rosto por rosto.
                Ele ama como um Deus e finge como um verdadeiro homem. Todos os homens o querem, a vida o quer. Todos precisam de Dean. Todos querem um James Dean. E o mundo, este é feito por algumas poucas ilusões.

                Pensamento pessoal: As cenas cortam, o mundo abre e o casal, este ainda é o casal que todos precisam.

Corpos


                 Ah! Os corpos,
                aqueles maduros e sedosos.
                Ás vezes pequenos,
                outras apenas duros.
               
                São os corpos. A maquina perfeita.
                Com as peles vistosas,
                Brilhando com o suor, e exalando
                Seu aroma puro, perfeito.

                Estes lindos corpos,
                Que me fazem divagar,
                perder noites e noites pensando.
                Fantasiando com os toques,
    fantasiando com aquela força contra mim.
               
                São estes corpos que se atraem,
                são eles que me mantêm vivo.
                Corpos, não almas.
               
                São deles que preciso.
                Explorá-los mais e mais,
                senti-los  em sua plenitude.
                Com toques pesados e gostosos.
               
                Corpos e corpos,
                eu lembro
                Como o meu pai,
                Whitman cantando,
                Exalta-os por cada veia,
                Cada fibra
               
                Músculo por músculo
                Boca por boca
                Seio por seio
                Perna por perna.

                O canto do corpo
                Ao sexo, ao corpo.
                Este... é o canto.
                O canto ao corpo elétrico.