A chuva
com o seu tom tranquilo tateava o chão da varanda e o garoto apenas observava
pingo por pingo. Aquela umidade repentina enchia os peitos do rapaz e ele
apenas fechava os olhos sentindo a vastidão do mundo. Estava sozinho, assustado
com todas as coisas que o rodeavam. No fundo da sala saía um som calmo, uma
batida inconfundível, era Riders on the Storm.
Seus
pés se moviam de forma inconstante. O espelho da sala o refletia e ali ele via a
imagem de seu corpo indo e vindo. Estava vestindo um short jeans velho, e sem
camisa mesmo naquele frio matinal. Seu
cabelo estava desgrenhado, tinha sua própria expressão assim como seu corpo. O
jovem dançava enquanto a chuva caía e sentia cada vez mais o tom de liberdade o
possuir.
Os
problemas haviam o deixado dormir bem e agora só o vago pensamento em um futuro
o perseguia. Aquela boca seca e calada fez com que ele deslizasse para cozinha
e voltasse com uma taça de vinho. Ainda sim estava andando de um lado para o
outro rodopiando como um garoto-homem.
No fim
das contas o sentimento de estar só não era tão ruim para ele, ali ele tinha
contato consigo mesmo e podia experimentar a forma de ser adorável e respeitoso
assim como libertino e vulgar. Agora estava explorando o contato com ele mesmo,
sem a necessidade de ninguém. E a chuva…, agora caía mais rápida fazendo com
que o peito do garoto se enchesse mais e mais.
Seu
corpo estava em comunhão, uma alma ligada à natureza de certa forma. As horas
passavam e ele ainda estava lá, sentindo o poder de estar apenas sozinho e
entendendo a forma como desfilava, dançava, gritava e absorvendo seu próprio
silêncio. Ele estava só e suas pernas tremiam conforme balançava.
O vento
estava balançando-o por conta própria, suas mãos e braços estavam erguidos e os
rodopios sucessivos o faziam sentir como se fosse apenas um corpo elétrico. Sua
mente estava vazia, a dor ou desespero já havia o deixado. Ali via o quanto era
especial, o quanto era comum ao incomum, não era Jone, Jime, Paulo, Joe ou
Alex, era apenas o garoto se envolvendo mais e mais com seu próprio intimo,
talvez ele fosse você ou até mesmo eu.
Estava
numa ligação frenética e seu corpo se movia expressivo aos últimos acordes da
música. Aos poucos a chuva havia diminuído e agora o ar que o preenchia já
havia sumido. Suas pernas bambearam e com um estouro colou-se ao chão. A porta
abriu, eles já estavam entrando, a chuva acabara e a ultima coisa cortar aquela
ligação foi um sussurro em sua mente.
“Riders
on the Storm” …
– Filho
venha cá! Pegue as sacolas no carro.