Desespero


                Nossos corações começaram a bater mais forte e finalmente eu perdi o controle. Corria por entre as ruas e nada sentia, não conseguia dizer  uma mera palavra e todos ao meu redor perdiam a cor. Estava num mundo cinza, daqueles em que você parece ser sempre o centro das atenções e não no lado positivo da questão, sim naquele lado onde todas as coisas dão errado ou caem sobre você como uma chuva de meteoros.
                Quanto mais corria maior era o caminho que tinha de percorrer, meus sonhos e desejos se afastavam ainda mais, um nó na garganta se fazia pesado. Estava a ponto de ceder, ajoelhar e rogar para que os anjos me tomassem, mas o orgulho inútil que só me tomava junto ao desejo do descanso.
                A busca era incessante, eles se afastavam, essas pessoas que eu procurava agora pareciam deixar de existir. Na realidade pareciam se afastar de qualquer coisa e cada vez mais o parecer se tornava concluso e afirmativo. Não entendia a reação do tempo sobre mim, não entendia a reação que as pessoas faziam a partir de mim. Não quero impacto, não quero mais perversão, aliás nem tão pouco busco sublimação da alma ou algo do tipo.
                Eu só quero o tempo.
                ... Eu só quero o tempo.
                               ... Eu só quero o tempo!
                Quero fechar os olhos e estar em locais diferentes, quero fluir por entre as veias de cada ser, quero ser único e necessário, não vou fazer impacto, serei a própria catástrofe mas não irei  caricaturizar o que sou ou o que buscaria ser. Na verdade estou desesperado para me tornar aquilo que perdi e aquilo que ainda serei. Sempre dúbio.

                Eu só quero o tempo.
                ... Eu preciso do tempo!
                .              .              . Eu...
                Meus pés se cansam e não corro mais, me deparo frente a frente com algo novo, o algo novo. Não ninguém diferente, nem mesmo uma personalidade relutante em meu subconsciente, mas sim o novo eu tomado pelo pulsar do peito de todas as pessoas. Neutro, sem posição adequada ou inadequada. Já não sou dúbio, não procuro funcionar em mais de um momento, sou como um relógio verdadeiro que aos poucos com o seu toc-toc faz com que alguns pulsares se tornem mais fortes e outros se desfaleçam se tornando parte de mim mesmo.

                                               ... Eu sou o tempo.