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Anjos da Noite



Ainda perdido, andava pelas ruas escuras durante uma madrugada errante. Meu corpo se erguia como um monstro se ergue diante ao fim da noite, e nós corríamos, brincávamos como pequenos demônios brincavam ao aproveitar a noite.
                Lá estava você ao meu lado, expulsando suas asas negras e dançando pelas ruas sentindo a chuva descer por entre o corpo, perversão, amor e sexo. Todas as coisas estavam chegando em nossas almas. Ainda andávamos como os verdadeiros guardiões da noite.
                Perdidos nos encontros das esquinas, nas portas dos bares e nas pistas de dança daquelas boates antigas, erámos loucos e todos os nossos verões eram ali em meio as bebidas, em meio ao rock em meio ao suor, enfim a nossa perversão. Única e incontável perversão.
                Andávamos como duas crianças comportadas mais com a mente possuída por monstros de outras realidades, erámos ainda pequenos, criancinhas com os olhos vermelhos e com as almas cheias de um buraco escuro, tão escuro que nós tínhamos uma única e pequena luz. Sim, restava luz em algum lugar de nós mais isso não nos atraia, ainda gostávamos da forma nua e crua na qual nossas mentes trabalhavam.
                As luzes dos postes ainda continuavam acesas e ao passo em que caminhávamos pouco apouco elas apagavam, como se toda a vida ali acabasse ,como se nós levássemos tudo para o fundo, tudo para aquele buraco negro, fundo.
                E nossas asas abriram novamente, a rua ficou totalmente contaminada por nossa escuridão, os gritos ressoaram durante quarteirões e ali ficamos extasiados aquela música vinha da boate e nossos corpos se encontravam dançando pelo ar. Todos nos observavam, monstros dançando, monstros com asas nem tão monstros e sim anjos.
                Os anjos da escuridão, e o canto era alto, os nossos corpos agora se encontravam e chocavam finalmente como esculturas esculpidas a mármore. E o céu agora ficava escuro com uma única ponta iluminada, um vermelho sangue no meio dos céus e dois pontos escuros vistosos movimentando em constante rapidez.
                Toda a terra estava calada e só nós nos movíamos, apenas nós dois conseguíamos ouvir o canto e sentir a luz por entre toda a escuridão, nós erámos a luz da escuridão em sua própria e majestosa escuridão, o ponto mais escuro, o ponto mais claro.
                Inegavelmente era essa a nossa forma de ser, de sentir e de ver as coisas.  Agora erámos tudo, todos. Havíamos nos tornado tudo que queríamos e podíamos ser. Não erámos simples anjos nem grossos monstros. Erámos apenas os Anjos da noite.

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