Com o meu corpo eletrico




                Com um salto alto e uma roupa no estilo anos trinta a garota desfila por entre as mesas do bar. Cantando baixinho algumas das musicas que ela mesma escreveu, servindo drinques e drinques para os beberrões da madrugada.
                Olhos cansados e sorriso sem graça, perdida em seus sonhos e com a esperança morta. Ainda era aquela garota do qual o pai podia se orgulhar, talvez lá dentro no fundo de si ela ainda seja a garotinha sorridente que corria no jardim de casa para os braços de seu pai.
                Lembranças vazias a consumia, infância, adolescência e seu único amor. Estas coisas a sondavam de forma árdua por mais que ela tentasse esquecer.  Seu corpo continuava se movendo e o seu sorriso amargo era exibido de forma automática.
                Com seus amigos do bar ela era conhecida como garota do corpo elétrico, sem vontade, sem vida. Ainda no inicio da madrugada ela subia ao palco, cantando grandes nomes do soul e blues, sendo a garota que um pouco lembrava as expectativas de seu pai.
                – Você será uma estrela, com tua voz doce e seu jeito meigo.
                Ela sempre lembrou de suas palavras, quando estava no palco por maiz que fosse cansativo ela cantava para o pai, por mais que fosse doloroso ela lembrava a imagem do pai. Mas sua mente pede, ela a incita cantar. Erguendo-se perante o palco e citando as grandes canções, cantando suavemente como uma diva. A morta diva, a garota do bar, a garota do corpo elétrico.
             “Elvis é o meu pai, Marilyn é a minha mãe,
Jesus é o meu melhor amigo.
Eu não preciso de ninguém, porque nós temos um ao outro,
Ou pelo menos eu fingir.

Descemos toda sexta à noite,
Dancin 'e grindin' ao luar.
Grande toda a oração, sentindo bem,
Ela reza o rosário para minha mente quebrada.

Refrão:
Eu canto o corpo elétrico
Eu canto o corpo elétrico, baby.
Eu canto o corpo elétrico
Cante o corpo elétrico
Canto o corpo elétrico.
Eu estou no fogo, baby, eu estou em chamas.”       Lana Del Rey – Body Eletric

Lindo lugar





                Já era tarde, a estrada estava vazia e o sol aquecia toda aquela pele branca. Com calça jeans e camiseta branca assim como James Dean ele percorria as estradas. E a cada quilometro seu peito se enchia de ar, liberdade. A vida havia sido tão dura, mas agora ele estava ali, de pé mesmo sem rumo havia um destino. Busca por si mesmo.
                Havia parado no posto de gasolina, o cheiro de lavanda consumia todo o local, típico do Arizona. Seus olhos puros percorreram o pequeno espaço entre o carro e local de abastecimento, um homem turvo, um tanto calvo havia o recepcionado. Com barbas longas e uma voz rouca:
                ­– Quanto quer senhor?
                – Pode encher o tanque. – Uma expressão de mistério e ao mesmo tempo alegria se fazia presente em seu rosto.
                – Viajem longa?
                – Talvez! Bom vou na lojinha ali qualquer coisa me chama, e encha de agua pra mim ­?
                – Sim senhor.
                Caminhou para dentro da loja, observou a garota no caixa e deduziu que podia ser a filha daquele senhor no posto. Andou por todo o espaço e pegou alguma barras de chocolate, cereais e uma cerveja.
                – Oi garota. Pode passar isto para mim?
                – Sim, o senhor é que manda.
                – Senhor? Não cheguei nem aos trinta. –  sorriu com tranquilidade, largando todas as outras preocupações.
                – A... Qual o seu nome. – a menina passava os alimentos um a um sem parar de olhar para o rapaz.
                – Jone, Joe, James, Dean. James Dean? Quem se importa ?
– Eu! Mas não tem problema, não vou me casar ou qualquer coisa assim. – ela sorriu e continuou. – Pra onde o Sem Nome vai?
                – Quem sabe a sua cama?
                – Acho que não, não sei o seu nome. Senhor  Sem Nome.
                – Meu nome não importa, meu dinheiro não importa, nem você. O que importa sou eu, a estrada essa cerveja e meu carro. – disse ele enquanto deixava o dinheiro e pegava a sacola e saia do local.
                Passou pelo senhor e deu-lhe o dinheiro, silenciosamente caminhou para o carro. Ligou o carro e ouviu a musica era inevitável dirigir e não dizer:
                It's a beautiful place if we make it

Seja livre: Liberte-se




                Era inicio de inverno, as coisas pareciam estar tranquilas. Folhas caiam das arvores e faziam um imenso tapete de folhagem pelas ruas. E nestas mesmas ruas as pessoas se movimentavam lentamente. O fim de ano se aproximava e o ar estava tão úmido, como nunca. Facilmente dava para se perceber a nostalgia dos momentos.
                Ele observava tudo, as pessoas, as folhas, os carros. Sempre teve o habito de encarar as coisas e os fatos, isto era algo que fazia desde sua infância. Observar e observar. Seu corpo delgado ainda estava inerte. Já estava  ali por mais de uma hora e o café em sua mão esquerda já esfriava. Mas não fazia mal, havia pouco do liquido e seu impulso por ver as coisas eram mais importantes que um misero café de uma cafeteria de esquina.
                Aos poucos as pessoas saíam do Café, algumas o encaravam outras apenas passavam apressadas como se estivessem com a vida por um fio. Com um toque em seus ombros ele voltou a razão e envergonhado virou a esquina dando passos firmes e outros leves. Era completamente imprevisível, não se podia arriscar dizer algo sobre sua personalidade até mesmo porque nunca ninguém o ousou fazer.
                Caminhou vagarosamente e após algumas ruas ele estava lá, pronto para encarar a realidade, sentir os fatos como realmente são. Abriu a porta e adentrou aos corredores da casa. O outro rapaz estava lá, com tatuagens espalhadas pela metade de seus braços e pescoço, vestindo apenas uma calça jeans.
                – Voltou tarde! Por onde esteve
                – Comprei um café e me perdi nos pensamentos.
                – Normal, fomos criados assim!
                – Pensou em minha proposta?
                – Sim, na verdade já está tudo pronto, eles não vão nos procurar por um bom tempo.
                – As malas estão no carro? – ele perguntou surpreso.
                – Sim ... mas antes de continuar preciso saber por que vamos fugir? Qual o verdadeiro sentido disso?
                – Estamos aqui desde sempre, observamos amigos, inimigos e todas as outras pessoas viver. E nós? Nós apenas vimos tudo, eles nunca nos permitiram viver.
                – Entendo, é estranho pois enquanto você diz essas coisas uma chama corre em minhas veias.
                – Sim, é a vontade de sair por esta porta, viver, amar, trabalhar e viajar por todo o mundo. Vamos? Vem, vamos viver!
                – Claro – seus olhos estavam completamente marejados e seu coração se enchia de uma esperança sutilmente diferente ­–  vamos viajar até aquelas pequenas cidades e trabalhar nos bares, sentir a adrenalina enfrentando nosso medos. Beber, amar, transar e casar. Ter filhos e nunca, nunca se arrepender das coisas.
                – Isso mesmo!
                – Mais e nossos pais , como ficam?
                – Eles tentaram, nos seguraram enquanto puderam e agora é a nossa vez de viver e sentir nossas vidas correrem por entre as veias. Vem, vamos?
                Eles caminharam lado a lado e quando deram por si a porta já havia sido fechada, estavam dentro do carro e na estrada, cantarolando alguns clássicos do rock e apenas vivendo.

Garota mulher ...


               

               Ela dança em meio a multidão, suando como se estivesse se entregando ao mundo. Com os olhos puros e os saltos pontiagudos ela se move na pista, não pensa nas coisas como acontecem, ela simplesmente dança sem medo. Tomando tequila atrás de tequila e rebolando seu quadril.
                Os garotos simplesmente são atraídos por sua linguagem corporal, eles olham, encaram e ficam loucos. Contam coisas quentes e sorrisos maliciosos, todos atrás de seu corpo. E ela sabe, ela vê como desperta a paixão nos homens, a paixão desenfreada do sexo e o amor por uma noite.
                Ela caminha pelas estradas, enxerga todas as coisas em raios de quilômetros, dança, dança e dança, acompanhada pelas sombras de seus antigos homens. “As coisas são assim, elas sempre foram assim”, ela insistia em pensar firmemente que era forte, e realmente era, andando por aí sozinha, ou até mesmo acompanhada por homens de uma única noite.
                Independente e feliz, dançarina e prostituta. Mulher da noite, dona da noite. Esta era ela enquanto todas outras ficavam em casa. A garota continuava a entender que não era uma mulher comum, ela era a segunda mulher ou a mulher por uma noite.

                Ela dançava pelos salões
                Desfilava pelos corredores
                Virava doses e doses de tequila
                Instigava os homens,
                Trazia todo o poder sexual consigo
                Era a mulher que queria ser
                Independente ao seu modo
                Acompanhada ou sozinha ao seu modo
                Mais no fim era mais uma mulher, perdida em seu caminho e carente dos sentimentos profundos.

Cruamente simples !

"Não há o que se espera, não há o que se pensar, simplesmente se é. O inegável e o cru amor."


                Seu corpo ergueu, envergou-se como um cisne. Ela estava presa em seu inverno. Presa cada vez mais em si mesma. Com os olhos marejados e a alma frágil tentou sorrir, lembrar a si mesma de que o pior já havia passado, mas convencer-se disto era pesado demais, forte demais. Era apenas uma garota que havia perdido seus sonhos em uma esquina qualquer.
                Caminhou até a porta do banheiro e outra vez tentou sorrir. Dessa vez ela se olhou no espelho, estava c completamente sonolenta e pouco a pouco ia se dando conta que vestia a camiseta dele. O cheiro único do garoto estava lá. Com um pouco de dificuldade pegou uma parte da camisa e sentiu-a por entre os dedos, puxou-a até seu nariz e enfim a sentiu, aquele cheiro engraçado, meio suou ou até mesmo fragrâncias baratas.
                A sonolência a deixou e um sorriso bobo agora se fazia em seu rosto. Estava na cozinha, tomava aquele mesmo iogurte de sempre, era uma verdadeira garota num corpo de mulher. Seus pensamentos estavam fixados nele, naquele poder sedutor, com um sorriso tão intimo e acolhedor.
                A porta havia sido aberta, enfim ele estava de volte e nesse momento todo o medo se foi, toda a fragilidade deu lugar ao sentimento sublime de proteção. Era amor, paixão, aquela paz que só ele podia trazer para dentro daquela casa, para dentro do coração daquela garotinha.
                – Bom dia amor! – ele disse enquanto tirava as compras da sacola.
                – Bom dia... – ela ainda estava envergonhada por ter pensado que ele não voltaria.
                – Aposto que pensou que eu não voltaria. Não é?
                – Claro com você tudo é imprevisível, totalmente inseguro – sua face apenas transmitia aquela vergonha boba e insegura.
                – Você sabe, não sou mais aquele garoto.
                – Sim, eu sei.
                – Então por que temer tudo?  – enquanto ele falava aos poucos já a abraçava, passava a mão pelos seus cabelos e continuava a fazê-la tremer.
                – Não sei com você me sinto frágil, vulnerável mais ao mesmo tempo sinto um amor infinito e uma grande entrega.
                – Falando assim você fica parecendo aquela nossa e professora.  – seu sorriso e olhar fez com que a garota simplesmente o abraçasse mais forte.  – Eu não vou sair daqui, não vou lhe deixar nem sumir. Eu sou seu e apenas isso ou tudo isso, o que você quiser.
                – Te amo!
                – Também te amo.
                Saíram de casa, andaram pelas ruas, abraçados e continuamente sorriam como se fosse aquela primeira vez, aquele primeiro momento em que se encontraram, amavam-se mais do que qualquer coisa.
                

Caminhar ... Correr... Morrer e Just Ride



                Ela ainda continua por aí, saltando de carro em caro e virando as pequenas esquinas da cidade. Completamente destruída e em busca de seu verão. Seu verões são simples, são aqueles antigos homens nos quais ela pode contar.
                Cantar blues já é uma realidade distante, enfrentar turnês já é algo que se passou em outra vida. E ela continua ali, mesmo fragil e incomum uma criança em corpo de mulher.

"Transitando de tempos em tempos e pretendendo se manter jovem: morrendo jovem" Ela continua a caminhar, não se perde em suas palavras nem em seus atos, cada dia é um novo dia onde as aves continuam a voar onde eu continuo a transitar, calmamente e perdidamente louca.

                 Com os medos e a busca de seu grande e precioso verão ela entra em colapso, perde todos os objetivos e continua a caminhar, perdeu-se e a unica coisa que se pode fazer é caminhar, caminhar.

 Continuar a dirigir pelo mundo como se tudo não passasse de um unico sonho de veraneio.... Just Ride.